28 de setembro de 2006

XXXVIII - Complexo de Deus


Actualmente fala-se muito de complexos, que afectam a vida do homem.
Uns têm complexos de inferioridade que os anulam.
Outros, complexos de timidez que os inibem.
Não falta quem tenha o complexo de superioridade ou de domínio, que os lança em trabalhos desproporcionados que indubitavelmente vão acabar em fracassos desanimadores.
Dizem os psicólogos que, uns mais outros menos, todos somos abrangidos por algum complexo.
Sendo assim, porque não havemos de ter o COMPLEXO DE DEUS?
Ao fim e ao cabo, é o único complexo verdadeiramente libertador, o único que não corta as asas, mas que as estende e que aumenta a sua potencialidade.
É o único complexo que não destrói a própria personalidade; pelo contrário, reafirma-a, orienta-a, fundamenta-a e rebustece-a.


Alfonso Milagro

XXXVII - Mateus

Boa coisa veio ao mundo
No Inverno em que nasceste
-Contigo também nasci-
Nos outros dias em que cresceste.

Espadaúdo, rouco na justiça,
Na vontade que te atiça.

Boa coisa veio ao mundo
Quando Deus fez o Mateus
-Contigo também cresci-
Neste Sempre; Sempre, Sem Adeus.

XXXVI - Prima Vera


Gostava de morrer flor
Numa vida sacrificada
Por uma mão que ama.

Numa vida santificada
Por uma calma na alma.

Gostava de morrer flor
Oferecida por amor.

-Vida arrancada num só gemido-

Flor a morrer.
Amor a crescer.

Assim, eu, flor moribunda,
Esvaída numa morte tonta e zonza,
Oferecida por amor,
Esvanecida num fim supremo,
Acho-me no meu destino:
No beijo dos amores, na beleza dos odores,
Na simplicidade das minhas cores.





Moribunda, moribunda...
No colo do teu calor,
Eu, ainda flor, adormeço pelo teu ardor.

XXXV - Quinta a Fundo




É nas alturas da renúncia de si mesmo,
em favor de algo Maior,
que o homem se vai purificando e tornando melhor.



Quando vais pela estrada a alta velocidade, no teu carro, vais com uma certa tranquilidade porque sabes que o carro responde bem.
A tua vida é assim: um carro lançado a alta velocidade. Tens que manter a calma e o domínio da tua vida; deves controlar sempre a situação em que te encontras. Quando conduzes o teu carro, por melhor que ele te responda, se não fores senhor dos teus nervos, se os teus reflexos forem tardios, estarás à beira de uma catástrofe. A tua vida terá muitos acidentes, se não fores senhor de ti mesmo, se não dominares os teus instintos, se não refreares os teus impulsos. O autodomínio é o segredo da vida.
Alfonso Milagro

XXXIV - A Mente e o Lago


A mente pode ser comparada a um lago e os nossos pensamentos a ondas que o põem em movimento.
Da mesma forma que ao atirarmos uma só pedra para o lago as ondulações que aparecem são ordenadamente concêntricas, também a mente está coerente e criativa quando vivemos o momento presente, sem ficar presos ao passado nem preocupados com o futuro.
Porém, se atirarmos uma mão cheia de pedras para o lago, a água fica muito agitada por ondulações desordenadas. O mesmo se passa com a mente quando, preenchida por pensamentos rotineiros, se limita a movimentar de forma caótica, incoerente e não criativa.



Maria José Costa Felix
photo by: arturibeiro

XXXIII - Ter Razão?

Sê atento em ouvir e lento em responder.

É, pois, muito prudente pensar antes de falar,
pensar se devemos falar ou calar e pensar em como devemos falar.

A discussão está na resposta.
.
.
Senão com frequência, pelo menos de vez em quando, surpreendes-te a ti mesmo numa altercação, numa disputa, numa verdadeira guerra com os teus, com os que mais amas na vida, ou com os que encontram diariamente por razões de trabalho, de vizinhança, etc. Depois da discussão, depois de te teres deixado levar pelo teu nervosismo, já mais calmo, certamente começaste a recordar o acontecido e viste que eles tinham razão, e tu não. Outras vezes vistes claramente que eras tu quem tinha razão, mas que te comportaste como uma criança teimosa, na defesa da tua razão. Conclusão: em todas as discussões, em todas as disputas, ficaste a perder. Toda a guerra, ao fim e ao cabo, foi negativa, nunca serviu para esclarecer a verdade nem para aproximar os corações antes, pelo contrário, os azedou. Quer a razão estivesse do teu lado quer não, ficaste distanciado dos teus, azedo para com eles. Então, valia a pena a discussão?
Alfonso Milagro

XXXII - Lenda Árabe sobre a Amizade








Os Amigos não precisam de desculpas,
os Inimigos não acreditam nelas.



Diz uma lenda árabe que dois amigos viajavam pelo deserto e em determinado ponto da viagem, discutiram e um deu uma bofetada no outro.
O outro, ofendido, sem nada para fazer, escreveu na areia: HOJE O MEU MELHOR AMIGO DEU-ME UMA BOFETADA.
Seguiram caminho e chegaram a um oásis onde resolveram banhar-se. O que havia sido esbofeteado começou a afogar-se, sendo salvo pelo amigo.
Ao recuperar pegou num canivete e escreveu numa pedra: HOJE O MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME A VIDA.
Intrigado, o amigo perguntou:- Porque é que depois de eu te ter dado uma bofetada, escreveste na areia e agora na pedra?
Sorrindo, o outro amigo respondeu:- QUANDO UM GRANDE AMIGO NOS OFENDE, DEVEMOS ESCREVER ONDE O VENTO DO ESQUECIMENTO E O PERDÃO SE ENCARREGUEM DE APAGAR A LEMBRANÇA. Por outro lado, QUANDO NOS ACONTECE ALGO DE GRANDIOSO, DEVEMOS GRAVAR ISSO NA PEDRA DA MEMÒRIA E DO CORAÇÃO ONDE VENTO NENHUM EM TODO O MUNDO PODERÁ APAGÁ-LO
photo by: Michael Reichmann

XXXI - Mariana Barros


Era uma vez uma Maria
Uma menina galopante
Um fogo jamais atado
Um mar azul, grande e atiçado.


Era uma vez uma Maria
Uma menina de rompante
Um dito jamais calado
Um vento grande. Beijo alto e desarmado. Declarado!


Era uma vez uma menina
Que de tanto Maria
Já nem o barro a contia
Já nem o nome lhe cabia
E de tanto não caber, Mariana ficou a menina!

XXX - Como é o desenho que fazes com a Alma solta?

Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis rectas é fácil fazer um castelo.
Com o lápis em torno da mão me dou uma luva.
E se faço chover, com dois riscos, tenho um guarda-chuva.
Se um pinguinho de tinta caí num pedacinho azul do papel,
Num instante imagino uma linda gaivota a voar no céu.
Vai voando...contornando a imensa curva Norte-Sul
Vou com ela viajando: Hawaii e Pequim ou Istambul!


Pinto um barco á vela, branco navegando,
É tanto céu e mago, um beijo azul!

Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião azul-grená
Tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar
Basta imaginar, e ele está partindo, serenamente se a gente quiser.
Ele vai pousar!


Numa folha qualquer
Eu desenho um navio de partida,
Com alguns bons amigos bebendo de bem com a vida.
De uma América á Outra consigo ir num segundo,
Giro um simples compasso e no círculo eu faço o mundo.


Um menino caminha e caminhando chega no muro,
E ali, logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está!

E o futuro é uma Astro-Nave que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar...
Sem pedir licença muda a nossa vida
E depois convida a rir ou chorar.

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá,
O fim dela ninguém sabe, bem ao certo, onde vai dar...

Letra da Música “Aquarela” de Toquinho&Djavan

XXIX - As Duas “Omni-Opções”

O João era o tipo de homem que qualquer pessoa gostaria de conhecer:Estava sempre de bom humor e tinha sempre qualquer coisa de positivo para dizer. Se alguém lhe perguntasse como ele estava, a resposta seria logo:

-Óptimo... !Era um gerente especial, os empregados seguiam-no só por causa da sua atitude. Era um motivador nato: se um colaborador tinha um dia mau, o João dizia-lhe sempre para ver o lado positivo da situação.

Fiquei tão curioso com o seu estilo de vida que um dia lhe perguntei:

-João, como podes ser uma pessoa tão positiva o tempo todo? Como é que consegues isso?

Respondeu-me: -Cada manhã, ao acordar, digo para mim mesmo: - João, hoje tens duas opções, podes ficar de bom humor ou de mau humor, e escolho ficar de bom humor. Cada vez que algo de mau acontece, posso escolher fazer-me de vítima ou aprender alguma coisa com o ocorrido : escolho aprender algo. Sempre que alguém reclama, posso escolher aceitar a reclamação ou mostrar o lado positivo da vida.

-Certo, mas não é fácil - argumentei.

-É fácil, disse-me o João. A vida é feita de escolhas. Quando examinas as coisas a fundo, há sempre uma escolha. E cabe-te escolher como reagir às situações: escolhes como as pessoas afectarão o teu humor.

É tua a escolha de como viver a tua vida.

Nunca mais me esqueci do que o João me disse, e lembrava-me sempre dele quando fazia uma escolha.

Anos mais tarde soube que o João cometera um erro, deixando pela manhã a porta de serviço aberta, e foi surpreendido por assaltantes. Dominado, enquanto tentava abrir o cofre, a mão, tremendo com o nervosismo, desfez a combinação do segredo. Os ladrões entraram em pânico, dispararam e atingiram-no. Por sorte, foi encontrado a tempo de ser socorrido e levado para um hospital. Depois de 18 horas de cirurgia e semanas de tratamento intensivo, teve alta, ainda com fragmentos de balas alojadas no corpo. Encontrei-o, mais ou menos por acaso, passados uns dias, e quando lhe perguntei como estava, logo me respondeu com o seu habitual ar bem disposto:

-Óptimo!

Contou-me o que havia acontecido, e perguntou se eu queria ver as suas cicatrizes. Eu recusei-me a ver seus ferimentos, mas perguntei-lhe o que lhe havia passado pela mente na ocasião do assalto.

-A primeira coisa que pensei foi que devia ter trancado a porta das traseiras, respondeu. Então, deitado no chão, ensanguentado, lembrei-me que tinha duas escolhas: poderia viver ou morrer. Escolhi viver!

-Não tiveste medo? - perguntei.-Olha, os paramédicos foram óptimos, diziam-me que tudo ia dar certo e que eu ia ficar bom. Mas quando cheguei à sala de emergência e vi a expressão dos médicos e enfermeiras, fiquei apavorado: nas expressões deles eu lia claramente: Esse aí já era...

Decidi então que tinha que fazer algo. -E o que fizeste? - perguntei. -Bem, havia uma enfermeira que fazia muitas perguntas. Perguntou-me se eu era alérgico a alguma coisa. Eu respondi: Sim. Todos pararam para ouvir a minha resposta.

Tomei fôlego e gritei: Sou alérgico a balas! Entre a risota geral, disse-lhes: Eu escolho viver, operem-me como um ser vivo, não como um morto!

O João sobreviveu graças à persistência dos médicos, mas, também graças à sua atitude.

Aprendi que todos os dias temos a opção de viver plenamente e tomar decisões, pois serão atitudes que trarão benefícios agora e para a eternidade. Afinal de contas, a ATITUDE É TUDO...

Lembra-te, tens sempre duas opções: a escolha é tua!

P.S: Gaspeople, companheiros de Timor, nunca me esquecerei da profundidade deste texto. Texto, tantas vezes referido e vivido pelo grupo, em terras do Oriente: “– King não te esqueças, tens sempre duas opções: a escolha é tua”. Mimos que fazem crescer, que se entranham, que de tão simples nos fazem optar com mais certeza. Muito Obrigado.Muito.

20 de setembro de 2006

XXVIII - A Vitória Nossa de Cada dia

A mais premente necessidade de um ser humano é tornar-se um ser humano.


“Não entender” é tão vasto que ultrapassa qualquer entender - entender é sempre limitado. Mas não entender não tem fronteiras e leva ao infinito, ao Deus.
Olhe ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso chamado vitória de cada dia:

Não temos amado, acima de todas as coisas.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.

Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem avental.

Temos procurado a salvação, mas sem utilizar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.

Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.

Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada.

Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe.

Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fiz figura de tolo” e assim ficamos contentes antes de apagar a luz.

Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.


E com tudo isto consideramos que entendemos o mundo e a vida. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Lispector

XXVII - Ironia

O quase nada é aquilo que falta quando, pelo menos aparentemente, não falta nada: é a inexplicável, irritante, irónica insuficiência de uma totalidade completa contra a qual nada se pode dizer e que nos deixa curiosamente insatisfeitos e perplexos.
Quando, portanto, falta quase nada, falta, afinal, o essencial.

V. Jankélévitch
Cuidado com o « QUASE NADA » !
Que, para além de toda a energia que dispensamos no estudo, no trabalho e na cosmética do “sou inteligente, rico e bonito” ainda nos sobre alguma energia para nos ocuparmos com o nosso “QUASE NADA”.

Escolher entre olhar ou não olhar para o nosso “QUASE NADA”, que está sempre presente da nossa vida é escolher entre ter uma vida consciente ou ter uma vida inconsciente e, por isso mesmo, insatisfeita.

Que, para além do nosso fabuloso CurrIculUM PROFISSIONAL possamos sentir que no nosso CurrIculum VITAE consta a atenção e o trabalho que realizamos constantemente com o nosso “QUASE NADA”.

XXVI - Encruzilhadas











Ao longo das encruzilhadas do teu caminho encontras as outras vidas, conhecê-las ou não, vivê-las a fundo ou desperdiçá-las depende da escolha que fazes num segundo; embora o não saibas, entre seguir a direito ou fazer um desvio joga-se muitas vezes a tua existência e a existência de quem está perto de ti.
Susanna Tamaro

XXV


bom Ano. é óbvio.

XXIV - Pai Natal: o meu Super-Herói preferido.

Era uma vez um Ego que não gostava do Natal.
Era um Ego banal; trabalhava e tinha família como toda a gente da sua idade. Era um trabalhador afincado, chegava a casa sempre cansado. Aparentemente era um Ego de sucesso, mas não gostava do Natal... Não gostava do Natal por esta época de ano ser propícia a uma certa dimensão de compaixão, à qual não estava habituado. Sentia-se quase nu e envergonhado sempre que tinha de retribuir a um “Bom Natal”. Sentia-se desconfortável sempre que tinha de se apresentar tal “como se é”, sem assuntos de negócios, sem estratégias para o futuro... Enfim, era mais fácil falar da conjectura macroeconómica do que falar do que se sente! Todo aquele ambiente de comunhão e de proximidade enervavam-no e obrigavam-no a reconhecer que ouvir o coração não era o seu forte. Não estava, de facto, habituado! Na noite da ceia escondia-se atrás daquilo que podia: atrás de um trago de vinho, de um sorriso sem sentido, ou na ilusória atenção ás conversas dos outros. Tudo fazia para fugir ao “troco” de um elogio afectuoso.
Oferecia presentes na esperança de ninguém notar o seu constrangimento. Não sabia dizer ás pessoas, de outra maneira, o quanto gostava delas. Ás vezes, enquanto pensava nestes assuntos, nem sabia ao certo o que era “gostar” das pessoas. E este tipo de pensamentos, já muito próximos da tal dimensão de compaixão, assustavam-no e mostravam-lhe as suas fragilidades. No fundo não gostava de não gostar do Natal. Tinha pena! Tinha pena, este Ego, de não gostar do Natal. Seria um estrangeiro no seu próprio coração?


De facto, o Natal não foi feito para Egos!

O Natal só faz sentido para os que acreditam na virtuosidade do Pai Natal; aquele que dá, aquele que está atento, aquele que nunca se esquece, aquele que nos conhece.
O Natal é um espaço de amor e de esperança, onde nasce o Menino Jesus e onde, de Natal em Natal, renascemos todos nós.


Desejos de um Natal (Renascimento) com coração e com Jesus.

XXIII

Imperturbabilidade

Hoje só me apetece dizer:

Imperturbabilidade

XXII-Amor a Cinzel

Quis cinzelar o amor numa pedra.
E a custo percebi que isso não se faz!
Mesmo que chame pedra ao teu coração...
Isso não se faz!

19 de setembro de 2006

XXI-Palavra Calada


Gostava de pensar sem palavras.
E dizer-te, já sem palavras, aquilo que sinto.

... de sentir sem os sentidos
E saber, já sem sentidos, a tua mão no meu defeito.

... de causar mas sem efeito.
E enfeitar-te a vida já sem segredo...

... de te entregar o meu dizer, saber...
E receber-te, na vida, aquilo que és, no teu silêncio.

E ouvir, nada.

XX-Ufa!

Que canseira!
Palavras, palavras, palavras, palavras...

Enfim... palavras... e afins...

Mas, ás vezes...
Um sorriso inteiro!
E o beijo?
O beijo...um beijo sem palavras,
Nem fins.


photo by: Gregory Colbert

XIX - do meu irmão Becas Costa

........................................................do meu irmão Becas Costa:


"Voava livre para a liberdade de amar, nesse caminhar parado, para todo o lado... "