24 de setembro de 2008

CXLV - de perto se vai ao longe

Podemos ir longe, se começarmos de muito perto. Em geral começamos pelo mais distante, o "supremo princípio", "o maior ideal", e ficamos perdidos em algum sonho vago do pensamento imaginativo. Mas quando partimos de muito perto, do mais perto, que é nós, então o mundo inteiro está aberto – pois nós somos o mundo. Temos de começar pelo que é real, pelo que está a acontecer agora, e o agora é sem tempo.
Jiddu Krishnamurti

23 de setembro de 2008

CXLIV - vidas a dois

Conta uma lenda dos Índios Sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem Azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram: - Nós amamo-nos e vamos casar. Mas amamo-nos tanto que queremos um conselho que nos garanta que ficaremos sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até à morte. Há algo que possamos fazer? E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse: - Há o que possa ser feito, ainda que sejam tarefas muito difíceis. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao Norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva! Os jovens abraçaram-se com ternura e logo partiram para cumprir a missão. No dia estabelecido, em frente à tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves. O velho tirou-as dos sacos e constactou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido. - E agora, o que faremos? Os jovens perguntaram. - Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com estas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres. Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltitar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se magoarem. Então o velho disse: - Jamais esqueçam do que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a magoar-se um ao outro. Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.

17 de setembro de 2008

CXLIII - ou


beijoquinha joanoka

Assim:
Ó meu Deus tenho um problema tão grande!

Ou assim,
Ó problema tenho um Deus tão grande!

CXLII - Como um Bonsai...

Há poucos dias um irmão meu fez anos, e eu não sabia muito bem o que oferecer-lhe como presente. Porque lhe quero bem, resisti a dar-lhe insignificâncias… Pensei, então, num BONSAI. Sim, naquelas árvores minúsculas estão sempre inscritas muitas histórias contadas com palavras como delicadeza, simplicidade, atenção, cuidado e, sobretudo, paciência.

Um Bonsai não é uma árvore normal que se deixa nascer e crescer da semente lançada à terra. É uma obra de arte natural que exige muitas horas de perícia, mão segura e olho fino…

E comprei mesmo um Bonsai para lhe oferecer. É preciso ter muito cuidado no tratamento que se lhe dá, porque é muito frágil, é preciso ser muito rigoroso nas regas e nas exposições à luz, é preciso ter a coragem e a perícia de ir podando de vez em quando aquelas pontas que forem perdendo vigor…

Ter um Bonsai é fácil; mas Mantê-lo é mais exigente.
Quando lho ofereci, lembrando-lhe todos os cuidados a ter, tive a certeza de que ele estava a perceber a minha mensagem…

O Bonsai mais importante que temos que cuidar na vida chama-se… EU.

O Bonsai tornou-se aos meus olhos uma imagem muito rica desta tarefa quotidiana que é ser, construir-se como pessoa, humanizar-se. Nesse dia em que o meu irmão celebrava a sua Vida, quis lembrar-lhe que temos que nascer e renascer todos os dias! Tratar com cuidado do seu Bonsai seria um exercício muito bom para não se esquecer de que estamos permanentemente em construção.
Porque um Bonsai é como o nosso Coração: tem a forma que nós lhe dermos, é o que nós fizermos dele.
Assim como há um Saber próprio para criar um Bonsai, há uma Sabedoria própria para ir construindo um coração. E o “Saber do Bonsai” até nos ajuda a perceber algumas coisas da “Sabedoria do Coração”…Por isso, vamos pegar nas quatro instruções que estavam no cartão que acompanhava o Bonsai:

1. Esteja sempre atento ao seu Bonsai quanto a tempos de rega, altura de poda, mudança de terra e de vaso. Vá examinando as folhas e o crescimento das pontas dos ramos quotidianamente para acompanhar o seu crescimento saudável.
A importância de estarmos ATENTOS, porque na vida não podemos deixar-nos empurrar para caminhos que nos desinstalam de nós próprios, opções que nos expulsam de dentro de nós mesmos e nos tiram das mãos a tarefa da nos construirmos como pessoas livres e felizes. Se não estivermos atentos, somos despossuídos com muita facilidade… Roubam-nos de nós próprios! Controlam-nos o que havemos de pensar, julgar e agir. E metem-nos entre a espada e a parede se quisermos assumir a ousadia da diferença. A este mecanismo, depois, há quem lhe chame moda, cultura, sistema, pressão social… No fundo, é uma lógica de carneirismo, em que os desatentos são transformados em carneiros mansos de um rebanho que, na verdade, nunca chegaram a escolher. Muitas vezes, em vez de nos agarrarmos a sério nas nossas próprias mãos e nos construirmos segundo o Sentido e os Critérios que consideramos mais válidos, deixamo-nos arrastar na multidão do “Maria vai com todas!” em que ninguém é verdadeiramente ele próprio. E costuma ficar tudo justificado com frases deste estilo: “Todos fazem assim…”.

2. Quando tratar do seu Bonsai, para regar, limpar ou podar, faça-o sempre com cuidado e com muita calma para não danificar os ramos frágeis.
A importância da SERENIDADE, porque na vida nos habituámos a ser muito brutos. Reagimos com toda a facilidade… Já todos fomos magoados, e já todos magoámos! É assim a espiral da agressividade que temos que ir vencendo. Devíamos habituar-nos a respirar fundo antes de cada opção complicada… Mas, antes disso, ainda temos que ganhar a Sabedoria da Opção, para nos vermos livres da Lógica da Reacção. Diante de um acontecimento inesperado ou uma situação de tensão, nós normalmente reagimos. É sempre a opção mais fácil e natural, mas raramente a melhor! É preciso aprendermos a Interiorizar (que é o contrário de “fazer ricochete”…), Discernir e Optar por aquela que nos parecer a melhor atitude. Se formos honestos connosco próprios, temos que reconhecer que as Opções Reflectidas só muito raramente coincidem com as Reacções Imediatas…

3. Periodicamente, regue o seu Bonsai mergulhando-o em água e deixando-o repousar nela durante uns minutos.
A importância de sabermos PARAR, porque nos meteram na cabeça que não podemos estar quietos, temos que andar sempre a cirandar para chegarmos ao fim do dia cansados, ainda que não preenchidos. Os dias cheios nem sempre são dias em cheio!...
A lógica das Carreiras introduziu-nos no ritmo das correrias, e todos perseguem os sonhos que querem conquistar amanhã pisando distraidamente as maravilhas que hoje poderiam ter vivido e saboreado. Pensa bem… para a maior parte das pessoas que tu conheces, a vida perdeu o gosto. Parece que inventámos um mundo no qual ser pessoa é ser funcionário. Roubaram-nos os Sentidos verdadeiramente válidos para Viver, e encheram-nos os olhos de motivos para lutar e rivalizar! O dia-a-dia foi perdendo sabor, o corre-corre em que nos metemos engoliu-nos a alegria e amordaçou-nos o coração, e nós nunca temos tempo para parar. Parar para Ser. Por uns momentos, limitar-se a Ser, sem fazer nada, sem parecer nada, sem comprar nada nem ocupar-se com nada. Simplesmente, Ser! As coisas urgentes escravizam-nos. E são tantas… As coisas importantes não se impõem; apenas se insinuam… Mas nós andamos distraídos, atarefados, cansados…
Se começarmos a parar mais vezes, uns bocadinhos de cabeça a arejar e coração desabotoado, começaremos a ver quais são as prioridades da nossa vida. Damo-nos conta de que corremos atrás de algumas coisas muito pequeninas e de que temos trilhado alguns caminhos que conduzem a nenhures…

4. O seu Bonsai precisa de cuidados, mas respeite o seu ritmo natural de crescimento. Necessita de ser podado, regado e exposto ao sol, mas não o faça exageradamente, com pressa que ele se desenvolva, porque isso fará com que ele seque.
A importância de termos PACIÊNCIA, porque na vida queremos sempre tudo para ontem, e porque não sabemos esperar, muitas vezes deitamos “mãos à obra” antes de tempo, sem sabermos sequer muito bem o que há a fazer… A capacidade da paciência é um dos sinais mais evidentes de maturidade. Mas Paciência não é Passividade! A paciência é um dos rostos da Esperança. Não é aquela “paciência!” de quem encolhe os ombros, mas a capacidade de aguentar a dor que algumas opções nos fazem sofrer, e não desistir! “Paciente” é aquele que passa pela “Passio” (em latim, paixão, sofrimento) mas não se deixa derrotar por ela, não deixa de manter os olhos fitos num amanhã de esperança, não larga das mãos as cordas da vida!
A paciência é uma fortaleza. Os fracos costumam fugir para a frente, e normalmente saem de cabeça rachada contra aquilo do que fugiam. Os fortes resistem, enraízam-se e tornam-se seguros, recusam as opções fáceis e imediatas porque já lhes conhecem as consequências manhosas… Por isso estes, depois de passada a tempestade, saem dela sempre mais fortes e mais sábios. Os fracos costumam ficar ainda mais fracos…
Temos que aprender a arte da paciência, a sabedoria de parar para pensar e optar. Porque em altura de tempestade não se fazem malas…
Se aprendermos esta arte da paciência, vamos começar a perceber que é bom os outros serem como são, diferentes de nós e até diferentes do que quereríamos que eles fossem. Aprenderemos a amar cada um como é, a aceitá-lo assim; vamos descobrir que ficamos mais felizes, porque amamos melhor e somos mais amados.
Além disto, dar-nos-emos conta de uma sabedoria escondida que é muito importante: a diferença entre a Vida que Acontece e a Vida que se Constrói. A primeira está cheia de absurdos, dissabores, surpresas, provas… A segunda está cheia de apelos, semeada de sonhos e projectos. A Vida que Acontece é Natural, rege-se pelas leis da natureza. A Vida que se Constrói é Pessoal, rege-se pelas leis do Amor. Então, perceberemos de uma vez por todas que, afinal não há becos sem saída! Há é saídas difíceis de encontrar e outras que ainda é preciso abrir. Então, perceberemos de uma vez por todas que a Vida que Acontece não nos pode simplesmente aninhar na angústia e no choro triste de lágrimas antigas e batalhas perdidas. Porque estamos chamados a ser protagonistas da Vida que se Constrói, aquela que está nas nossas mãos e é um entretecido de relações, opções, atitudes, escolhas, decisões, recomeços e renascimentos!

Rui Santiago cssr
Jovens Redentoristas Portugal
http://www.jovensredentoristas.com

5 de setembro de 2008

CXLI - As Lições dos Gansos



Quando se olha para o céu e
voar em forma de V, julgamos que é bonito, mas alguma vez se questiunou
porque é que eles voam assim?

Facto l:
À medida que o ganso bate as asas cria um túnel de sustentação para a ave seguinte que voa atrás de si. Voando em formação em V, o bando de gansos consegue voar pelo menos 71% mais do que se cada ave voasse isoladamente.
Lição 1:
Pessoas que compartilham uma direcção e um objectivo comum, assim como um sentido de cooperação, em equipa, chegam ao seu destino mais depressa e facilmente, porque se apoiam na confiança umas nas outras.

Facto 2:
Sempre que um ganso sai da formação em V, repentinamente sente o arrasto de tentar voar sozinho, pelo que rapidamente retoma à formação para tirar vantagem do poder de sustentação que lhe é oferecido pela ave que voa à sua frente.
Lição 2:
Num grupo existe força, poder e segurança que nos são oferecidos pelos outros por irmos de encontro aos mesmos objectivos.

Facto 3:
Quando o Ganso líder se cansa, reveza-se, indo para a traseira da formação enquanto outro ganso assume o vértice.
Lição 3:
É Importante que os membros de um grupo/equipa se revezem, principalmente quando se trata de trabalho árduo.

Facto 4:
Os gansos que voam atrás grasnam para encorajar os da frente e manter o ritmo e a velocidade.
Lição 4:
Todos necessitamos de ser reforçados com apoio e encorajamento.

Facto 5: .
Quando um ganso adoece ou se fere e é forçado a deixar o grupo, dois outros gansos saem da formação e seguem-no para o ajudar e proteger. Eles acompanham-no até à solução do problema e depois reiniciam a jornada a 3 ou juntam-se a outra formação de gansos, até encontrar a sua formação original.
Lição 5:
Precisamos ser mais solidários nas dificuldades.