8 de junho de 2006

XVIII - Ser Amigo é Ser Alguém

Conheci alguém que tende a levar até ás últimas consequências o sentido das palavras que o circundam. Assim, pula de palavra em palavra, pula da trivialidade do que se diz para o conforto de conhecer o que se faz.
Um dia falei-lhe da Amizade. Ouviu atentamente. E disse-me, palavra por palavra, o que para si significa ser amigo de alguém: Quando se fala de Amizade fala-se de algo, que bem conhecido, passa inevitavelmente pelo crivo da acção. Ser amigo é, na sua consequência, ser irmão. Amizade é comunhão. Só conhecemos a Amizade quando lhe descobrimos o sentido. E descobrir o sentido da Amizade não é mais do que senti-la, ou seja, do que vivê-la. Amizade é acção, acção de irmão. Amizade não é nenhuma abstracção intelectual ou algum jogo que nos dê a sensação de estar próximo de alguém. Ser amigo de alguém é mais do que ter um sentimento ou uma ideia do que é a Amizade. Ser amigo é querer conhecer profundamente a Amizade. Ser amigo é ser um abrigo. Ser amigo é ser alguém.

XVII - Do Amor

Todos nós elegemos o Amor como um dos ingredientes mais importantes para a realização de uma vida plena. Mas, se assim é, porquê que é tão difícil encontrar relações amorosas maduras, saudáveis e plenamente compensadoras?

Porque o Homem, ao viver obcecado com o Futuro*, cria uma opressão e uma limitação constante das motivações da vida. O Homem que assim vive, vive com medo e com pressa e, com medo e com pressa não há espaço para que se permita o desabrochar dos mais profundos sentimentos.

Como é possível o Amor?

Através da libertação da mente. Através de uma vivência que se deixe de querer saltar a cerca do Agora, que se deixe de “futuros” e viva no “aqui e agora”. É necessário eliminar os obstáculos que se interpõem entre o ser e a vida. Numa palavra, através da conquista da disponibilidade. Um homem sempre com pressa não pode ter disponibilidade para o amor.


Por isso nos dias de hoje se confunde tanto o AMOR com o SEXO. O homem que vive obcecado com o Futuro (com aquilo que não é) acha que a vida dolorosa. E uma das fugas desta vida dolorosa é o sexo isolado e sem sentimento, já que a violência agradável das sensações orgíacas, supera, por momentos, e através de um estado semiconsciente e de esquecimento, as tensões dolorosas de existência. Claro que, no fundo, se trata daquele fenómeno do “paraíso perdido”. No fundo o Homem quer produzir e receber amor porque essa é uma necessidade vital para a sua realização como pessoa. Mas porque não pode, nem sabe, ele procura nos contactos provisórios da vida -ao nível dos sentidos - uma forma de ilusão que pareça realidade.

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* O Homem sofre pelos “seus ideais” e vive constantemente a situação de conflito entre o que é e o que julga que deveria ser. O descontentamento do actual cria a alternativa do futuro para onde transferimos todos os desejos de uma realização indefinida, inevitavelmente suposta melhor.É assim que o Homem se apresenta ao Presente: sem o viver e, sempre com a cabeça no Futuro.

Júlio Roberto

XVI - Qualidade de Vida

Apostar literalmente no provir é um belo jogo, mas é um jogo de quem já se resignou a perder o presente.

Os enganos do mundo!
Miguel Torga
O que é a qualidade de vida?

O que queremos e o que buscamos?

Porque razão a luta pela sobrevivência mata no Homem a condição de pessoa?

E porque razão também, ultrapassada a meta da sobrevivência, caímos na angústia da avidez?

O Homem sofre pelos “seus ideais” e vive constantemente a situação de conflito entre o que é e o que julga que deveria ser. O descontentamento do actual cria a alternativa do futuro para onde transferimos todos os desejos de uma realização indefinida, inevitavelmente suposta melhor.

Acontece assim provavelmente à maioria de nós. Poucos porem, se apercebem disso porque, ou se agarram com uma falsa alegria aos meios de diversão e atordoamento, ou se absorvem em responsabilidades tidas por importantes, ou transferem, para o destino, a sociedade, o emprego, a família, os governos, a origem da mediocridade das suas vidas e a amargura, aí bem conscientes, de uma existência sempre adiada.

Esta é a origem do conflito em cada Homem: não gostar da forma como está na vida, e desistir todos os dias da sua forma de ser. Está, mas não é. E como subterfúgio ele dirá sempre que ainda um dia...

Um dia que nunca chega, porque, entretanto, ele será encarado a cada passo pelas preocupações da sobrevivência e, logo em seguida, ainda sem poder respirar, por toda uma sociedade formada por homens sôfregos -também angustiados- que inventam necessidades, prometem sucesso, acenam com esperança e vendem desesperadamente tudo, a troco de dinheiro que irá servir para inventar novas necessidades e novas esperanças.

Assim o Homem é esvaziado no seu todo. Tem de lutar para sobreviver, sem espaço para ser.

Dá-se a inversão dos valores: O que é bom é o que faz esquecer; o que é mau é o que lhe lembra a condição em que vive.

Qual é então a qualidade de vida?

É esta amargura constante em que procuramos sobreviver?
É o riso forçado e provocado pela excitação dos vários tipos de drogas - festas, carros, férias de cansaço, competições?
É ter um “bom emprego”, ou bens ou negócios, que desenvolvam, quase sempre, não as potencialidades criadoras, mas a avidez, a ambição e a inveja?
É ter desistido da vida pessoal, em favor do futuro?



Se a vida é um acontecimento que magoa, empobrece e amedronta, então algo deve ser revisto urgentemente, porque falhamos ao cria-la. E o que deve ser revisto é a qualidade da existência e o seu verdadeiro significado.

E porque a qualidade da vida as liga ao seu significado, é necessária uma disponibilidade interior, como quem pára um pouco, para a descobrir.

Sentir a vida não é alienar-se dela. É tomá-la no seu todo, é estar desperto para nós e para os outros, para os movimentos que se processam dentro e fora da nossa interioridade.

Mas para que isto seja possível, para que a qualidade de vida seja resposta à própria vida, é imprescindível que o Homem tome consciência da sua condição, repudiando ilusões e criando realidades.

E se a luta pela sobrevivência é, em princípio, a mais tremenda das formas de alienação, porque obceca, fere, e transporta a nossa mente para a incerteza do amanhã, não deixando nem espaço, nem tempo para sermos, as lutas por outras sobrevivências em outros graus –sucesso, poder, importância - não são menos alienantes, porque também elas, metas falsas sem significado, nos absorvem e distraem da profunda comunicação com a existência.

Não tem lugar o Amor, portanto não tem lugar a Vida.

Agem assim contra o Homem, várias forças que o agrilhoam e o desgastam. Deformam-lhe a mente e os valores, a tal ponto, que o próprio desejo duma qualidade de vida melhor, acaba por ser povoado pela ambição daquilo que mata nele a alegria que tanto procura.

Mas o conflito interior de cada Homem - este estar tragicamente agarrado à esperança do futuro, porque se não acredita no presente - não é apenas o resultado das contradições do viver de cada dia. Ele tem uma origem profunda e longínqua nesse sentimento a que chamamos medo.

A sociedade oprime-nos primeiro e oferece-nos as alternativas depois. Se queremos ter sucesso, se queremos ter uma vida em segurança para nós e para os nossos, se queremos ser homens brilhantes, importantes, subir na vida, temos, em troca, de comprar, aderir, acompanhar.
E o medo de ficar para trás, o medo de não ter, o medo do futuro, geram em nós um constante desespero, transformando numa luta - a luta pela vida – que, ao ocupar totalmente a nossa mente, como uma obsessão, não permite nem tempo, nem, espaço, nem disponibilidade, nem alma para sermos o que realmente somos.

A prioridade que damos à fuga ao medo esgota a capacidade que temos de viver. Sobrevivemos, mas não existimos: o presente deixa de existir porque o presente é ocupado no medo e na salvaguarda do futuro.

A partir daqui o Homem cria valores que justificam a sua conduta. E assim vemos eleger o sucesso, a riqueza, a importância, como fontes de poder, estimuladas e alertadas, no pobre Homem que, entre confuso e medroso, pactua com os novos “deuses”.

Mas os desejos de sucesso, de riqueza e de importância, são eles próprios geradores do medo, do medo de os não ter. Nasce aí a competição, a inveja, a ambição, o atropelo de tudo e de todos, na corrida desesperada para a conquista dos bens que nunca mais nos darão a paz interior.

Grotescamente, as mais importantes manifestações da condição humana – o Amor, a Beleza, a Amizade, a Ternura – são evocadas nas novas técnicas de “marketing”, como metas que se atingem pela aquisição de objectos e quinquilharias que empobrecem o Homem, não apenas porque os compra, mas porque para eles transfere a emotividade da sua vida. O carro é índice de sucesso e caminho para o amor. A exploração desenfreada da afectividade humana promove as falsas esperanças, e produz, ela mesma, novas angústias para as quais virão outras soluções “marketingianas”.

Produzir o medo e explorá-lo, eis a grande descoberta duma sociedade que evoca, para isso, a protecção do Homem.

Tem o medo algo a ver com a qualidade de vida?

Suponhamos um Homem que julga amar muito os seus filhos. No seu conceito de amor, o melhor que poderá dar-lhes é assegurar-lhes o futuro. Mas o que é o futuro? Uma situação que o proteja das contingências da fome, da miséria, ou da meia-tigela. O medo age aqui determinado no pai, que se julga amoroso para com os seus filhos, uma preocupação de salvaguarda do futuro. Então ele determinará que o seu filho tenha um diploma, uma herança se possível, um meio de vida, que ele pai, acha que é o melhor. A sua experiência diz-lhe que assim deve ser e diz-lhe também que agora o futuro está, por exemplo, na engenharia. O seu filho é preparado para isso quase desde que nasce. Estuda, procura convencer-se que assim será e, entre uma ou outra rebelião, vai prosseguindo.
Mas, no entanto, algumas vezes, sente o entusiasmo pela vida, talvez pela música, talvez pela poesia ou até pelo ensino. Mas o pai, atento, ampara-o e proteje-o. Dá-lhe conselhos, tem outra experiência, sabe o que é a vida. Por fim aparecerá o jovem engenheiro. Como classe de certa importância, o casamento tem de ser de igual dignidade!
Mas admitamos que a actividade do jovem engenheiro, não dá resposta à sua vida; que o casamento não é o que esperava. Entretanto, como “hobby” dedica-se à música ou à poesia.
A vida, no dia-a-dia, é uma frustração e um constante desgaste de alegria e amor. O “hobby” uma espécie de retorno à sua dimensão e aos seus anseios. Mas é preciso que fazer sobreviver a condição, Aí, a luta é feroz, para manter uma situação para a qual não se tem alma, e por não ter a vida que estava na sua interioridade. Fica cansado de não ser ele. E o desespero, meio inconsciente, torna-o ávido e ambicioso, na procura de uma meta que dê resposta à sua vida. Meio feliz e meio infeliz, não chega a encontrar um significado para a existência.
De facto, talvez se fosse professor ou músico, ou qualquer outra coisa inerente à sua natureza, ele mantivesse intactas e até enriquecesse as potencialidades criadoras da sua alma. Mas o medo do seu pai e o medo que lhe foi contagiado, mataram nele a vida, o amor e a alegria. Mais valeria ser um varredor que assobiasse estivesse desperto para a vida, do que um engenheiro frustrado, envolvido no desespero.

Só pode falar das coisas quem as experimenta, amando-as e sofrendo-as. O resto são meras imagens que a memória e a educação no deram.

A insatisfação das necessidades vitais é a maior afronta à condição humana e a denuncia da falência do progresso.

Pergunta-se, então, o que é que o progresso adianta para a qualidade de vida?

Provavelmente nada, necessariamente tudo: o progresso é a educação que torna a mente livre para perceber a diferença entre existir e sobreviver; o progresso é a criação ou renovação de valores que desmistifiquem as falsas necessidades; o progresso é a descoberta e construção de sistemas que libertem o Homem da angústia do amanha e lhe dêem espaço e tempo livre, para ser pessoa; o progresso é a criação de condições interiores que permitam a percepção do significado da vida e tornem o coração do Homem a morada do Amor, da Beleza, e da Alegria.
Júlio Roberto

XV - Sabemos o que Somos? ou A Ironia do Ser.

Andava, por aí, a compulsar pela vida, cheio de pressa, quando encontro o Shakespeare na esquina da Tavi:

– Shak, tás bom?

– Sabemos o que somos, mas não o que seremos. – Responde-me enigmaticamente.

– Escreve o que dizes, um dia ainda vais ser famoso...hehehe... Até logo. Depois falamos... Estou com pressa!


Fiquei a pensar naquilo!

“SABEMOS O QUE SOMOS, MAS NÃO O QUE SEREMOS”.
Foi o que ele disse:
“SABEMOS O QUE SOMOS, MAS NÃO O QUE SEREMOS”.

Dasse...o rapaz tá tolo!

Então, não nos ensinam precisamente o contrário: Sabemos onde queremos chegar e o que queremos ser, e não temos que nos preocupar muito com aquilo que “ainda não somos agora”?! O importante é o que seremos!

Diz que sim...
Dasse...o rapaz tá tolo!

7 de junho de 2006

XIV - É Agora!

– Bom dia, como estás? – Pergunto a alguém sem tempo para ouvir a resposta;
O Ponto de Interrogação é mera formalidade!

– Estou...

– É uma chatice... pois... haa... isso passa. Pensamento positivo. – Tento abreviar a conversa, ao mesmo tempo em que dou dois passos para a frente, para aumentar a distância.

– Mas eu...

– Estou com pressa. Até logo. Agora não! Fica bem. Tá?

– Mas eu...

– Ah, eu não! Depois telefono. Fica bem. Vai tudo correr bem, tenho a certeza. Vais ver que tenho razão. Fica bem. Depois contas-me. PENSAMENTO POSITIVO!



E assim se vive. A compulsar.



Andamos sempre com pressa, sempre sem tempo e sempre atarefados.

Como é grande o nosso Ego.

Tanto trabalho!
Tanto estudo!
Tanto esforço!

Sempre a compulsar...

Uns atarefados com o trabalho, que é sempre muito e o dinheiro sempre pouco. E os sonhos são...caros!

Outros, atarefados com o estudo e com o saber. Saber mais para ser melhor. E quem não sabe muito, não pode...ajudar!

Temos de fazer isto hoje, amanha estudar aquilo, para “depois” ser e estar melhor.

Tanto trabalho!
Tanto estudo!
Tanto esforço!

Tudo isto – voltamos a pensar – para “depois” ser e estar melhor.


Voltamos a compulsar...


A nossa verdade é sempre “depois”. O nosso dia é sempre “amanhã”.


É claro que não é fácil admitir que isto se passa connosco!

Temos uma noção materialista da Felicidade: queremos mais, mais e mais. O nosso Grande Ego quer sempre mais, mais e mais. Amanhã quero mais do que aquilo que tenho hoje.


Mas,
E se por um acaso, nos fosse dito que apartir de agora, e para além do nosso esforço, não melhoraríamos nem materialmente, nem espiritualmente, como seria?

Ficaríamos tristes e descontentes? Porquê?

Não passaríamos, então, a viver só com aquilo que temos e somos, agora?

Não passaríamos a prestar maior atenção ás coisas simples da vida?

Não passaríamos, simplesmente e sem compulsão, a reparar que as coisas simples do dia-a-dia são, afinal, as portas e as janelas para a Felicidade?

Não passaríamos, realmente, a ser e a estar melhor, agora?

O que temos e somos, AGORA, já chega para sorrir e para ajudar quem precisa.
O que temos e somos, AGORA, já chega para se ser e estar FELIZ.

Haja Atenção, Calma e Alegria.

Não é “depois”. É AGORA.

XIII - Aerólito Compulsivo

desenho by: Augusto Costa



Pedra-se-me esta idéia neste pedregal pedregoso e pedregulhento que é a minha pedraria mental:

A minha lei é a compulsão!

Uma partícula, um grão de areia, uma pedra, um pedregulho, um rochedo, um monte, uma montanha, uma cadeia montanhosa, a Terra, o Universo, outros universos; e muito disto!

E Eu? No sopé da montanha a comer uma laranja, a olhar, a pensar, a sentir, enfim... a compulsar!

Pedra-se-me esta ideia de que sou uma partícula de um qualquer grão de areia, ou de uma pedra, ou pedregulho, neste monte ou montanha situado naquilo a que chamamos Terra e que faz parte do Universo dos universos que por aí andam...a compulsar!

XII - Lei do Eco

A mais extraordinária lei que a inteligência cósmica nos deu encontra-se precisamente onde poucos a procuram: encontra-se na agricultura.
Todos os agricultores sabem que, se plantarem um morangueiro, não colherão uvas, mas sim morangos.

Eis a mais importante lei moral:
COLHE-SE AQUILO QUE SE SEMEIA.

Sejamos, então, bons agricultores.


O.M. Aivanhov

photo by: Franinne

XI - Se queres sorrisos oferece sorrisos.

O segredo do êxito, o segredo da felicidade, é manifestar-se aquilo que se quer conseguir.


Imaginemos uma floresta magnífica com animais, aves e árvores carregadas de flores e frutos de toda a espécie. Mas, há um inconveniente: a magnífica floresta está rodeada de muros muito altos e muito grossos que a tornam inacessível. Colocaram mesmo, no cimo dos muros, bocados de vidros e arame farpado. E ainda por cima esta floresta é perigosa por causa dos animais que nela se passeiam -urso, leões, tigres-, que se regalarão com algum imprudente que por lá se aventure. Pois sim, mas nós queremos os frutos... Como lhes chegar?... De repente, apercebemo-nos de que há macacos nas árvores. Aí está, é a nossa salvação. Pegamos num cesto de laranjas, por exemplo, aproximamo-nos do muro e começamos a atirá-las uma a uma, aos macacos... E como eles são perfeitos imitadores, pegam nos frutos das árvores, em grande quantidade, e atiram-no-los. Apenas temos de os apanhar.
O segredo, então, está em atirar as nossas laranjas aos macacos!
O.M. Aivanhov

X - em construção

Se podes muito mais do que aquilo que fazes, não estarás obrigado a fazê-lo?


Se, só porque não sabes, nada fizeres, não aprendes nada.
É preferível errar e até sujar a alma, mas aprender.
Como querer que não caiam alguns pingos de cimento ou de tinta no chão quando se está a fazer uma obra? É impossível!
É necessário tolerar as manchas, contando que a construção prossiga e que o trabalho se faça. No fim, esfrega-se, lava-se, muda-se de roupa, mas pelo menos a obra está pronta.
O.M. Aivanhov

IX - Sonho Alegre



Num sonho alegre
A vontade de viver
Com medo de acordar
Com esperança em aprender



Desenho vencedor de uma turma do 1º ano da escola primária ‘CP Ramon Laporta’ de Sinarcas, província de Valência Mais de 250 turmas espanholas do 1º ciclo do ensino básico participaram no concurso ‘Habla ISS’ 2003. Os vencedores terão a oportunidade de falar em directo com o astronauta Pedro Duque da ESA, quando ele se encontrar a bordo da Estação Espacial Internacional no mês de Outubro.

6 de junho de 2006

VIII - Sentir, agir e sorrir.

ao meu irmão Sérgio Silva.



Conhecer o segredo da vida porque se ouve o sussurro no coração. Brincar com ele por entre os dedos e por isso sorrir... Sorrir sempre!

VII - Sol desagradável

Um sol radioso e uma atmosfera límpida e cálida.
Mas em vez de disfrutá-la, corremos o risco de a desperdiçar se no nosso coração não houver paz. Quando não há paz, até o sol parece desagradável e malfazejo; até a tranquilidade da atmosfera incomoda e desagrada.

Um dia de vento e chuva, pesado e incómodo.
Mas se tivermos paz no coração, podemos conseguir que a chuva não incomode e se transforme em canto e música. Com o nariz apoiado no vidro molhado e ouvindo o bater da chuva, podemos fazer com que as suas gotas cantem no nosso coração.

Isto significa que não são as coisas, mas o que temos no coração, que deixa em nós alegria ou tristeza, optimismo ou desânimo, amargura ou paz.

Alfonso Milagro

by: António Manuel Pinto da Silva

VI - O que adoro em ti

O que adoro em ti
Não é a tua beleza
A beleza é em nós que ela existe,
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e incerteza.
O que adoro em ti, é a vida.

Manuel Bandeira

V - O que quero?

O que quero?
Nada,
Para assim querer aquilo que acontece:
Um caminho que se faz passo a passo;
Uma montanha que se ganha palmo a palmo;
Um horizonte no sorriso;Uma vida percorrida.

photo by: Luis Miguens

IV - Estar

Nada está certo ou errado, mas pensar torna as coisas certas ou erradas. Deixamos de acreditar na realidade e passamos a acreditar no pensamento. E quando somos empurrados para o abismo, os nossos pensamentos acompanham-nos e não nos servem de nada.
Henry Miller


É estranho partir e ter muito para levar. E chegar e tudo para nada servir. É estranho reparar que o que tem valor não se leva, traz-se. Traz-se no coração.



Quando lá cheguei, esse lá, lá não estava. Ou quase lá não estava.
Nada correspondia às minhas expectativas. Ou quase nada correspondia às minhas expectativas.
Senti-me desafiado: ou Aceitava a Realidade ou agarrava-me ás Expectativas que trazia. Se me agarrasse ás expectativas que trazia - ou levava- tinha que lutar contra a Realidade.
Mas como lutar contra a Realidade? Como lutar contra aquilo que é, realmente?
Afinal, só me restava ACEITAR a Realidade em toda a sua diferença. Só assim iria conseguir uma interacção real. Só aceitando a Realidade como ela realmente é, é que realmente se vive sem frustração e de forma construtiva. Posso não concordar com ela, mas primeiro existe um Sim, e só depois a mudança na reciprocidade.
Não fiquei triste por ter expectativas erradas ou infundadas. Ou quase erradas.
Fiquei feliz por conseguir agarrar o desafio, por ter tido, naturalmente, a capacidade de o aceitar.
Aprendi a aproveitar a oportunidade de aprender. Aprendi a não me sobrepor à Realidade. Trabalhei e o milagre aconteceu. E assim, afinal, já lá estava.

foto de Helena Pintalhão

III - Para além da curva da estrada

Para além da curva da estrada
Talvez haja um poço, e talvez um castelo,
E talvez apenas a continuação da estrada.
Não sei nem pergunto.
Enquanto vou na estrada antes da curva
Só olho para a estrada antes da curva,
Porque não posso ver senão a estrada antes da curva.
De nada me serviria estar olhando para outro lado
E para aquilo que não vejo.
Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.
Se há alguém para além da curva da estrada,
Esses que se preocupem com o que há para além da curva da estrada.
Essa é que é a estrada para eles.
Se nós tivermos que chegar lá, quando lá chegarmos saberemos.
Por ora só sabemos que lá não estamos.
Aqui há só estrada antes da curva, e antes da curva
Há a estrada sem curva nenhuma.

Alberto Caeiro

II - Veleiro Solto

Grita
ao medo de gritar
como um veleiro solto
no mais alto mar

Grita

Vive o momento
como uma onda... a chegar

I - O que for, quando for, é que será o que é.

Não tenho pressa. Pressa de quê?
Não têm pressa o sol e a lua: estão certos.
Ter pressa é crer que passo adiante das pernas,
Ou que, dando um pulo, salto por cima da sombra.
Não; não sei ter pressa.
Se estendo o braço, chego exactamente aonde o meu braço chega-
Nem um centímetro mais longe.
Toco onde toco, não aonde penso.
Ninguém anda mais depressa do que as pernas que tem.
Se onde quero estar é longe, não estou lá num momento.

Alberto Caeiro