XXVIII - A Vitória Nossa de Cada dia
A mais premente necessidade de um ser humano é tornar-se um ser humano.
“Não entender” é tão vasto que ultrapassa qualquer entender - entender é sempre limitado. Mas não entender não tem fronteiras e leva ao infinito, ao Deus.
“Não entender” é tão vasto que ultrapassa qualquer entender - entender é sempre limitado. Mas não entender não tem fronteiras e leva ao infinito, ao Deus.
Olhe ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso chamado vitória de cada dia:
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem avental.
Temos procurado a salvação, mas sem utilizar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fiz figura de tolo” e assim ficamos contentes antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
E com tudo isto consideramos que entendemos o mundo e a vida. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia.
Não temos amado, acima de todas as coisas.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo.
Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem avental.
Temos procurado a salvação, mas sem utilizar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes.
Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível.
Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que a nossa indiferença é angústia disfarçada.
Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar do que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer “pelo menos não fiz figura de tolo” e assim ficamos contentes antes de apagar a luz.
Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos.
E com tudo isto consideramos que entendemos o mundo e a vida. E a tudo isto consideramos a vitória nossa de cada dia.
Clarice Lispector
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