17 de setembro de 2008

CXLII - Como um Bonsai...

Há poucos dias um irmão meu fez anos, e eu não sabia muito bem o que oferecer-lhe como presente. Porque lhe quero bem, resisti a dar-lhe insignificâncias… Pensei, então, num BONSAI. Sim, naquelas árvores minúsculas estão sempre inscritas muitas histórias contadas com palavras como delicadeza, simplicidade, atenção, cuidado e, sobretudo, paciência.

Um Bonsai não é uma árvore normal que se deixa nascer e crescer da semente lançada à terra. É uma obra de arte natural que exige muitas horas de perícia, mão segura e olho fino…

E comprei mesmo um Bonsai para lhe oferecer. É preciso ter muito cuidado no tratamento que se lhe dá, porque é muito frágil, é preciso ser muito rigoroso nas regas e nas exposições à luz, é preciso ter a coragem e a perícia de ir podando de vez em quando aquelas pontas que forem perdendo vigor…

Ter um Bonsai é fácil; mas Mantê-lo é mais exigente.
Quando lho ofereci, lembrando-lhe todos os cuidados a ter, tive a certeza de que ele estava a perceber a minha mensagem…

O Bonsai mais importante que temos que cuidar na vida chama-se… EU.

O Bonsai tornou-se aos meus olhos uma imagem muito rica desta tarefa quotidiana que é ser, construir-se como pessoa, humanizar-se. Nesse dia em que o meu irmão celebrava a sua Vida, quis lembrar-lhe que temos que nascer e renascer todos os dias! Tratar com cuidado do seu Bonsai seria um exercício muito bom para não se esquecer de que estamos permanentemente em construção.
Porque um Bonsai é como o nosso Coração: tem a forma que nós lhe dermos, é o que nós fizermos dele.
Assim como há um Saber próprio para criar um Bonsai, há uma Sabedoria própria para ir construindo um coração. E o “Saber do Bonsai” até nos ajuda a perceber algumas coisas da “Sabedoria do Coração”…Por isso, vamos pegar nas quatro instruções que estavam no cartão que acompanhava o Bonsai:

1. Esteja sempre atento ao seu Bonsai quanto a tempos de rega, altura de poda, mudança de terra e de vaso. Vá examinando as folhas e o crescimento das pontas dos ramos quotidianamente para acompanhar o seu crescimento saudável.
A importância de estarmos ATENTOS, porque na vida não podemos deixar-nos empurrar para caminhos que nos desinstalam de nós próprios, opções que nos expulsam de dentro de nós mesmos e nos tiram das mãos a tarefa da nos construirmos como pessoas livres e felizes. Se não estivermos atentos, somos despossuídos com muita facilidade… Roubam-nos de nós próprios! Controlam-nos o que havemos de pensar, julgar e agir. E metem-nos entre a espada e a parede se quisermos assumir a ousadia da diferença. A este mecanismo, depois, há quem lhe chame moda, cultura, sistema, pressão social… No fundo, é uma lógica de carneirismo, em que os desatentos são transformados em carneiros mansos de um rebanho que, na verdade, nunca chegaram a escolher. Muitas vezes, em vez de nos agarrarmos a sério nas nossas próprias mãos e nos construirmos segundo o Sentido e os Critérios que consideramos mais válidos, deixamo-nos arrastar na multidão do “Maria vai com todas!” em que ninguém é verdadeiramente ele próprio. E costuma ficar tudo justificado com frases deste estilo: “Todos fazem assim…”.

2. Quando tratar do seu Bonsai, para regar, limpar ou podar, faça-o sempre com cuidado e com muita calma para não danificar os ramos frágeis.
A importância da SERENIDADE, porque na vida nos habituámos a ser muito brutos. Reagimos com toda a facilidade… Já todos fomos magoados, e já todos magoámos! É assim a espiral da agressividade que temos que ir vencendo. Devíamos habituar-nos a respirar fundo antes de cada opção complicada… Mas, antes disso, ainda temos que ganhar a Sabedoria da Opção, para nos vermos livres da Lógica da Reacção. Diante de um acontecimento inesperado ou uma situação de tensão, nós normalmente reagimos. É sempre a opção mais fácil e natural, mas raramente a melhor! É preciso aprendermos a Interiorizar (que é o contrário de “fazer ricochete”…), Discernir e Optar por aquela que nos parecer a melhor atitude. Se formos honestos connosco próprios, temos que reconhecer que as Opções Reflectidas só muito raramente coincidem com as Reacções Imediatas…

3. Periodicamente, regue o seu Bonsai mergulhando-o em água e deixando-o repousar nela durante uns minutos.
A importância de sabermos PARAR, porque nos meteram na cabeça que não podemos estar quietos, temos que andar sempre a cirandar para chegarmos ao fim do dia cansados, ainda que não preenchidos. Os dias cheios nem sempre são dias em cheio!...
A lógica das Carreiras introduziu-nos no ritmo das correrias, e todos perseguem os sonhos que querem conquistar amanhã pisando distraidamente as maravilhas que hoje poderiam ter vivido e saboreado. Pensa bem… para a maior parte das pessoas que tu conheces, a vida perdeu o gosto. Parece que inventámos um mundo no qual ser pessoa é ser funcionário. Roubaram-nos os Sentidos verdadeiramente válidos para Viver, e encheram-nos os olhos de motivos para lutar e rivalizar! O dia-a-dia foi perdendo sabor, o corre-corre em que nos metemos engoliu-nos a alegria e amordaçou-nos o coração, e nós nunca temos tempo para parar. Parar para Ser. Por uns momentos, limitar-se a Ser, sem fazer nada, sem parecer nada, sem comprar nada nem ocupar-se com nada. Simplesmente, Ser! As coisas urgentes escravizam-nos. E são tantas… As coisas importantes não se impõem; apenas se insinuam… Mas nós andamos distraídos, atarefados, cansados…
Se começarmos a parar mais vezes, uns bocadinhos de cabeça a arejar e coração desabotoado, começaremos a ver quais são as prioridades da nossa vida. Damo-nos conta de que corremos atrás de algumas coisas muito pequeninas e de que temos trilhado alguns caminhos que conduzem a nenhures…

4. O seu Bonsai precisa de cuidados, mas respeite o seu ritmo natural de crescimento. Necessita de ser podado, regado e exposto ao sol, mas não o faça exageradamente, com pressa que ele se desenvolva, porque isso fará com que ele seque.
A importância de termos PACIÊNCIA, porque na vida queremos sempre tudo para ontem, e porque não sabemos esperar, muitas vezes deitamos “mãos à obra” antes de tempo, sem sabermos sequer muito bem o que há a fazer… A capacidade da paciência é um dos sinais mais evidentes de maturidade. Mas Paciência não é Passividade! A paciência é um dos rostos da Esperança. Não é aquela “paciência!” de quem encolhe os ombros, mas a capacidade de aguentar a dor que algumas opções nos fazem sofrer, e não desistir! “Paciente” é aquele que passa pela “Passio” (em latim, paixão, sofrimento) mas não se deixa derrotar por ela, não deixa de manter os olhos fitos num amanhã de esperança, não larga das mãos as cordas da vida!
A paciência é uma fortaleza. Os fracos costumam fugir para a frente, e normalmente saem de cabeça rachada contra aquilo do que fugiam. Os fortes resistem, enraízam-se e tornam-se seguros, recusam as opções fáceis e imediatas porque já lhes conhecem as consequências manhosas… Por isso estes, depois de passada a tempestade, saem dela sempre mais fortes e mais sábios. Os fracos costumam ficar ainda mais fracos…
Temos que aprender a arte da paciência, a sabedoria de parar para pensar e optar. Porque em altura de tempestade não se fazem malas…
Se aprendermos esta arte da paciência, vamos começar a perceber que é bom os outros serem como são, diferentes de nós e até diferentes do que quereríamos que eles fossem. Aprenderemos a amar cada um como é, a aceitá-lo assim; vamos descobrir que ficamos mais felizes, porque amamos melhor e somos mais amados.
Além disto, dar-nos-emos conta de uma sabedoria escondida que é muito importante: a diferença entre a Vida que Acontece e a Vida que se Constrói. A primeira está cheia de absurdos, dissabores, surpresas, provas… A segunda está cheia de apelos, semeada de sonhos e projectos. A Vida que Acontece é Natural, rege-se pelas leis da natureza. A Vida que se Constrói é Pessoal, rege-se pelas leis do Amor. Então, perceberemos de uma vez por todas que, afinal não há becos sem saída! Há é saídas difíceis de encontrar e outras que ainda é preciso abrir. Então, perceberemos de uma vez por todas que a Vida que Acontece não nos pode simplesmente aninhar na angústia e no choro triste de lágrimas antigas e batalhas perdidas. Porque estamos chamados a ser protagonistas da Vida que se Constrói, aquela que está nas nossas mãos e é um entretecido de relações, opções, atitudes, escolhas, decisões, recomeços e renascimentos!

Rui Santiago cssr
Jovens Redentoristas Portugal
http://www.jovensredentoristas.com

1 Comments:

Blogger ...QUE VOA... said...

Sabes, tenho falado com o meu. Lindos Diálogos nós temos. è bom verme a crescer, é bom ver-me a cuidar de mim, mas principalmente é bom saber que estou disponível para mim. As folhas caem ou são cortadas, As regas sao pedidas ou feitas com amor. è bom ver-me a pedir ajuda, é bpm ver-me a falar através da natureza. Num pequeno vaso ele lá eu lá estou, rodeado de pedras, de energia, de amor. Somos muitos a olhar por mim.
Obrigada por me teres mostrado este maravilhoso mundo que é o meu, ou por outra o nosso.

segunda-feira, setembro 22, 2008 1:33:00 da tarde  

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