CXXXVI - YOU ARE HERE AND THERE
A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Mas Fernão Capelo Gaivota não era um pássaro vulgar, para ele o importante não era comer, mas voar.
– Como se faz isso? Qual a sensação? Até onde se pode ir? – perguntou Fernão atordoado.
– Desde que o desejes, podes ir a qualquer lado – disse o Mais Velho. – Fui a todos os lugares sempre que quis.
Olhou o mar.
– É estranho, as gaivotas que desprezam a perfeição pelo prazer de voar, não vão a parte alguma, lentamente. Aqueles que trocam o prazer de voar pela perfeição, vão a qualquer parte, instantaneamente. Lembra-te, Fernão, o paraíso não é um local nem um tempo, porque local e tempo não significam nada. O paraíso é...
– Pode ensinar-me a voar assim?
Fernão Gaivota tremia de ansiedade por reconquistar o desconhecido.
– Claro, desde que queiras aprender.
– Quero sim. Quando podemos começar?
– Podemos começar agora, se tu quiseres.
– Quero aprender a voar assim – disse Fernão. E um brilho assomou aos seus olhos.
– Diga-me o que tenho de fazer.
Chiang, o Mais Velho, falou pausadamente, observando com atenção a jovem gaivota.
– Para voares tão depressa quanto o pensamento, para onde quer que seja – disse –, deves começar por tomar consciência de que já chegaste...
O truque, segundo Chiang, estava em Fernão deixar de ser preso dentro de um corpo limitado, cujas asas abertas abrangiam um metro e cuja perícia poderia ser traçada num mapa. O trunfo consistia em tomar consciência de que a sua verdadeira natureza vivia, tão perfeita como um número por escrever, em todo o lado e ao mesmo tempo através do espaço e do tempo.
Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota
Nota: Outra essência relacionada com o tema:
http://5-essencia.blogspot.com/2006/10/lii-guia-e-galinha.html