12 de abril de 2008

CXXXVI - YOU ARE HERE AND THERE

ao verdadeiro Fernão Capelo Gaivota que vive em todos nós

A maior parte das gaivotas não se querem incomodar a aprender mais que os rudimentos do voo, como ir à comida e voltar. Para a maior parte das gaivotas, o que importa não é saber voar, mas comer. Mas Fernão Capelo Gaivota não era um pássaro vulgar, para ele o importante não era comer, mas voar.

– Como se faz isso? Qual a sensação? Até onde se pode ir? – perguntou Fernão atordoado.
– Desde que o desejes, podes ir a qualquer lado – disse o Mais Velho. – Fui a todos os lugares sempre que quis.
Olhou o mar.
– É estranho, as gaivotas que desprezam a perfeição pelo prazer de voar, não vão a parte alguma, lentamente. Aqueles que trocam o prazer de voar pela perfeição, vão a qualquer parte, instantaneamente. Lembra-te, Fernão, o paraíso não é um local nem um tempo, porque local e tempo não significam nada. O paraíso é...
– Pode ensinar-me a voar assim?
Fernão Gaivota tremia de ansiedade por reconquistar o desconhecido.
– Claro, desde que queiras aprender.
– Quero sim. Quando podemos começar?
– Podemos começar agora, se tu quiseres.
– Quero aprender a voar assim – disse Fernão. E um brilho assomou aos seus olhos.
– Diga-me o que tenho de fazer.
Chiang, o Mais Velho, falou pausadamente, observando com atenção a jovem gaivota.
– Para voares tão depressa quanto o pensamento, para onde quer que seja – disse –, deves começar por tomar consciência de que já chegaste...

O truque, segundo Chiang, estava em Fernão deixar de ser preso dentro de um corpo limitado, cujas asas abertas abrangiam um metro e cuja perícia poderia ser traçada num mapa. O trunfo consistia em tomar consciência de que a sua verdadeira natureza vivia, tão perfeita como um número por escrever, em todo o lado e ao mesmo tempo através do espaço e do tempo.

Richard Bach, Fernão Capelo Gaivota

Nota: Outra essência relacionada com o tema:
http://5-essencia.blogspot.com/2006/10/lii-guia-e-galinha.html

7 Comments:

Blogger tchi said...

O segredo está em cada um apreender que a sua efectiva essência habita em toda a parte e entre o espaço e o tempo.


Beijinho.

segunda-feira, abril 14, 2008 1:26:00 da tarde  
Blogger pasta7 said...

tchi,
o PASSADO já passou, o FUTURO está por realizar neste PRESENTE que a vida nos dá. O resto são equívocos provocados pelos nossos medos, vulgarmente infundados!
"A sorte protege os audazes"
Deus ajuda!

Grato por teres sido tu a inaugurar os "comentários" a esta essência.

terça-feira, abril 15, 2008 3:11:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

É engraçado lembraste deste texto que, vá-se lá saber porquê, me foi relembrado à muito pouco tempo e de uma forma inesperada.
Voar eternamente fácil e tantas vezes difícil …
Voar exige coragem, força, independência e liberdade de espírito. Exige, principalmente, desprendimento de muros, barreiras e medos que nos são impostos por nós mesmos e grande parte das vezes de forma inconsciente. Mas, para ultrapassar o medo é preciso tomar decisões sérias e difíceis não basta ter consciência dele.
Então, só existem duas alternativas: morrer com o medo de voar ou assumir o “doloroso” processo de renovação que nos faz enfrenta-lo de frente.
O processo é muitas vezes solitário, como o da águia que se recolhe no ninho para renovar o seu bico…
É isso que, às vezes, temos que fazer nas nossas vidas. Encontrar o espaço para nos resguardarmos por algum tempo e começar o processo de renovação, para que possamos voar um voo de vitória; como a águia que voa sem medo entre o céu e a terra e nos ensina a encarar o medo natural que temos do desconhecido para podermos voar o mais alto que nossos corações nos queiram levar e gozar a tão desejada liberdade novamente.

quarta-feira, abril 16, 2008 2:30:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Lembro-me que, ao ler este livro, eu que sempre desejei ser gaivota (já aminha mãe adoraria ser andorinha), o meu batimento cardíaco aumentava desenfreadamente. Pensava na altura "Quero tanto... Despegar-me de tudo e voar. Como eu voava!". E quando pensava assim, via-me com as minhas asas a correr o céu do mundo e sentia o ar levemente na minha face. Sorria. Hoje depois de dois anos se passarem ainda vivo na esperança de voar, de despegar-me de tudo e sentir o ar do mundo. Sinto-me livre, mais livre, mas ainda penso que não tenho a consciência...

Obrigada meu Chiang.

quarta-feira, abril 16, 2008 2:50:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

JL,
Como podes sentir-te livre, se não tens consciência ?!
O velho Chiang pode ajudar:Tem consciência primeiro, a liberdade vem depois,...

quinta-feira, abril 17, 2008 3:44:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Anónimo,
Sinto necessidade de resposder à pergunta. As palavras são um mero instrumento de comunicação. Existem outros tipos de comunicação, como é sabido. No entanto, tenho aprendido que devo ter cuidado quando uso as palvras para comunicar e aqui está um belo exercício. Passo a explicar: sinto-me livre, mais livre (palavras pensadas na altura em que escrevia) foram expressões que usei para precisamente dizer que não era livre. O despegar-me de tudo, é um processo difícil e para mim moroso, que me leva a dizer e saber, que ainda não sou livre. No entanto, se entrar na questão de que o ser, é no agora e reside nos momentos em que vivo cada milésimo de segundo, aí sim posso dizer que sou livre e assim tenho consciência. Obrigada pela pergunta, sendo livre de pensar que respondi ou não correctamente, estando nós assim num estado em que o certo e o errado existem.
JL

terça-feira, abril 22, 2008 2:55:00 da manhã  
Blogger Zé Miguel Gomes said...

Gostei de saber o truque, vai ser útil ;)

Fica bem,
Miguel

quinta-feira, abril 24, 2008 11:38:00 da manhã  

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