CLXV - natureza essencial
Consciente de mim mesmo, sou também consciente de uma série de limitações. O"eu" que eu conheço é limitado. Eu sou consciente do meu corpo físico. Sendo consciente do meu corpo físico, eu também sou consciente das limitações que ele possui. Ele tem grandes capacidades, mas também grandes limitações. A mesma coisa com a minha mente, que analisa, questiona, interpreta, mas tudo dentro das suas próprias limitações. O meu sofrimento acontece porque, auto-consciente, eu me vejo consciente das minhas limitações. E ao me ver como um ser limitado, de várias maneiras limitado, eu sofro. Eu sofro porque me sinto limitado e por isso a minha felicidade também é limitada. Eu sinto-me constantemente ou frequentemente inadequado. Eu tenho poder de produzir, de alcançar, mas é limitado. Devido a essa capacidade de olhar para si mesmo, o ser humano, muitas vezes, pode não gostar do que vê. Constantemente nos damos conta das nossas limitações e sofremos, pensando em como poderíamos ser mais felizes se conseguíssemos ser diferentes. Essa mesma mente, que é uma grande bênção, também pode ser um grande problema, quando nos dá este sentimento de limitação, e nos faz estar constantemente em conflito. Se eu não estou bem comigo mesmo é porque estou vivendo somente a realidade da mente. O ser do qual eu sou consciente, que eu reconheço, é um ser limitado, por isso saber lidar com esta mente é fundamental. A solução está, não em tentar modificar as situações nas quais eu projecto a minha insatisfação. A solução está em modificar a minha visão de mim mesmo, modificar o ser insatisfeito. Jamais uma pessoa conseguiu verdadeiramente modificar o mundo à sua vontade. Isso porque tantas outras pessoas também querem modificar o mundo e têm padrões diferentes de como esse mundo deveria ser. Então jamais a solução poderia ser modificar o mundo para ajustá-lo à minha vontade. E mais: por mais que eu consiga mudar, transformar o mundo a minha volta, no processo de modificar o mundo nossos valores também se modificam, e nos descobrimos desejando outras mudanças. Se eu quero realmente ser feliz, preciso reconhecer que tenho que encontrar essa felicidade em mim mesmo, independente das situações.
Glória Arieira - professora de Vedanta