27 de novembro de 2010

CLXXXV - nunca estamos sozinhos!

RITUAL DOS ÍNDIOS CHEROKEES

O pai leva o filho para a floresta ao entardecer, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O filho senta-se abandonado no topo de uma montanha toda a noite e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte.
Ele não pode gritar por socorro.
Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem.

Ele não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.
O menino está naturalmente amedrontado.
O menino pode ouvir toda a espécie de barulhos.
Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao seu redor.
Talvez alguns humanos possam feri-lo.
Os insetos e cobras podem picá-lo.
O menino sente frio, fome e sede.
O vento sopra a vegetação e a terra sacode os tocos, mas o menino senta-se estoicamente, nunca removendo a venda.

Segundo os Índios Cherokees, este é o ritual de passagem do menino-criança para se tornar um homem adulto.
Finalmente...

Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida.
O menino então descobre o seu pai sentado na montanha perto dele.
o PAI esteve a noite inteira protegendo o seu filho do perigo, sem ele saber.

7 de novembro de 2010

CLXXXIV - firmeza

LÁ VEM O SOL (Madrinha Rita)

LÁ VEM O SOL NOS CURAR
VAMOS TODOS SE FIRMAR
NO SOL, NA LUA E NAS ESTRELAS
E NA RAINHA DO MAR

CHEGUEI, JÁ ESTOU AQUI
NINGUÉM QUEIRA DUVIDAR
O QUE MEU PAI ME ORDENA
EU TENHO QUE AFIRMAR

MEU PAI VÓS NOS ABENÇOE
NOS DANDO O VOSSO CONFORTO
QUE EU ESTANDO COM VÓS
JAMAIS ME CONSIDERO MORTO

ENCOSTADO A MINHA MÃE (Mestre Irineu)

ENCOSTADO A MINHA MÃE
E MEU PAPAI LÁ NO ASTRAL
PARA SEMPRE EU QUERO ESTAR
PARA SEMPRE EU QUERO ESTAR

MINHA FLOR , MINHA ESPERANÇA
MINHA ROSA DO JARDIM
PARA SEMPRE EU QUERO ESTAR
COM MINHA MÃE JUNTINHO A MIM

EU MORO NESTA CASA
QUE MINHA MÃE ME ENTREGOU
EU ESTANDO JUNTO COM ELA
SEMPRE DANDO O SEU VALOR

FAZENDO ALGUMAS CURAS
QUE MINHA MÃE ME ORDENOU
DE BRILHANTES PEDRAS FINAS
PARA SEMPRE AQUI ESTOU

firmeza = um homem tem que se identificar primeiro, penetrar até o centro, atravessar sua ilusão velada e finalmente ficar ereto, sem ser tocado, desapegado, não influenciado e livre.

4 de novembro de 2010

CLXXXIII - a voz que nos sonha

"… estava estendido, num belo Verão, à sombra de uma pequena mata, os pássaros chilreavam, falavam das suas histórias de territórios. Eu ouvia também o sopro quente da brisa nas folhas das árvores, um curso de água corria, cantando, sobre as pedras e os insectos palpitavam; o azul do céu entrava em mim pelas pestanas semicerradas. Mexo subitamente um braço e a minha mão encontra uma forma dura e redonda cujo toque me parece estranho. Curiosa pedra. Endireito-me um pouco para a ver e era uma tartaruga, com metade da cabeça dentro da carapaça. Deixo a minha mão pousada nela, não era desagradável, e penso: aqui está uma boa sopa para esta noite. Depois, talvez por causa da textura macia e perfumada do ar, decido levá-la, para casa mas deixá-la viver o Verão, para a observar um pouco. Mais tarde veríamos, quanto à panela. E digo a mim mesmo que ela daria uma excelente almofada para a minha nuca e para o resto da minha sesta. Assim o pensei assim o fiz, e, com a cabeça bem apoiada, mergulhei num torpor beatífico. Calmo. E nessa cabeça cheia do calor daquela hora de Verão, ouvi uma voz que me falou como se estivesse numa caverna:
«Obrigada por me deixares viver, diz-me ela, é sempre muito cedo para morrer e a minha lenta existência de tartaruga permite-me compreender muitas coisas que me servirão talvez depois da morte, em todo o caso, me interessam muito no dia-a-dia. Entrei na tua vida como num sonho e ninguém sabe se a voz que te fala te sonha ou se tu me sonhas. Não interessa. Mas quero ensinar-te como agir nos teus sonhos, pois as imagens da noite, as imagens do sono não são inúteis. Elas também revelam. Reflectem-te. Parecem muitas vezes loucas, descabidas, aberrantes, descrevem situações existentes e desconhecidas, conduzem-te para caminhos movediços onde cenários se transformam infinitamente, onde as personagens aparecem e desaparecem como que por magia. Tu lembras-te de algumas imagens fugazes, muitas vezes esquece-las, elas perturbam-te por vezes e frequentemente questionam-te. São como reflexos nocturnos e bizarros tombados na água da tua consciência. Interpretar esses sinais? Cabe-te a ti fazê-lo.»
«A verdadeira chave dos sonhos existe em cada um de nós, cada um possui a sua chave particular. Presta atenção ao ambiente do sonho, que te esclarecerá mais os detalhes da história que acabas de viver sonhando. Assim, se tu estás sempre a correr nos teus sonhos, se foges de alguém, de alguma coisa, isso indica um medo na tua vida, um medo a vencer. É preciso começar por vencê-lo no campo de batalha do sonho. Se alguém te persegue num sonho, então ataca-o, verdadeiramente, sem medo. Na maior parte das vezes farás dele um aliado. Ou então esta personagem inimiga dissipar-se-á, desaparecerá. Sonhas que estás fechado num certo lugar? Então, é preciso sair daí, deixar de bater numa parede que se vai abrir para uma nova situação. Sonhas que voas ou que cais? Não vale a pena ter medo da aterragem, poderá ser feita devagar, se tu assim o decidires. Um animal feroz e desconhecido lança-te chamas e vai despedaçar-te? Atira-te a ele, monta-o. E deixa-te levar onde quiseres. Se não conseguires, nada de remorsos inúteis ao acordar. A situação apresentar-se-á de novo sob uma outra forma, enquanto não for resolvida, e tu poderás enfrentá-la de novo e conseguir desatar este bloqueio que envenena a tua liberdade. É um grande segredo que te deixo aqui. Assim, noite após noite, tu aprenderás a domar as tuas energias interiores e a passear sem medo no país do Outro Lado.»
A tartaruga calou-se. Eu adormeci de verdade. Ao acordar ela já lá não estava. O meu braço servia de suporte à minha cabeça. Teria sonhado?"
A Lenda de Talhuic - Marc de Smedt