15 de setembro de 2010

CLXXXI - Frederico

Cercando o prado, onde as vacas pastavam e os cavalos corriam, havia um velho muro de pedra. Nesse muro, não muito longe do estábulo e do celeiro, uma tagarela família de ratos do campo tinha feito a sua casa. Os agricultores haviam partido, deixando o estábulo abandonado e o celeiro vazio. E, como o inverno estava a chegar, os ratinhos começaram a recolher milho, nozes, trigo e palha. Todos trabalhavam dia e noite. Todos menos um, Frederico.

– E tu, porque não trabalhas, Frederico? – Perguntavam os outros.
– Eu estou a trabalhar – dizia Frederico – Apanho raios de sol para os dias frios e escuros de inverno.

E quando viam Frederico ali sentado, olhando o prado, os outros ratos, diziam-lhe:
– E agora, Frederico?
Ele respondia, simplesmente: – Recolho cores para os dias cinzentos do inverno.

Noutra ocasião, Frederico parecia meio-adormecido.
– Estás a sonhar, Frederico? – perguntaram-lhe em tom reprovador.
Mas Frederico respondeu-lhes: – Ah, não! Estou a juntar palavras. É que os dias no inverno são muito longos, e podemos ficar sem nada para dizer.

Chegaram os dias de inverno e, quando caiu a primeira neve, os cinco ratinhos do campo abrigaram-se no seu esconderijo entre as pedras. No início havia muito que comer e os ratos contavam histórias de raposas tolas e gatos patetas. Eram uma família feliz.

Só que, aos poucos, foram comendo todas as nozes, acabaram com a palha e o milho não era mais do que uma longínqua memória. No muro de pedra fazia muito frio e ninguém tinha vontade de conversar. Então lembraram-se daquilo que Frederico tinha dito sobre os raios de sol, as cores e as palavras.
– E as coisas que tu armazenaste, Frederico? – perguntaram eles.
– Fechem os olhos – disse Frederico, enquanto subia uma pedra muito alta.
– Agora vou mandar-vos os raios de sol. Deixem-se envolver pelo seu brilho dourado… E, enquanto Frederico lhes falava do sol, os quatro ratinhos começaram a sentir-se mais aquecidos. Seria da voz de Frederico? Seria mágica?

E as cores, Frederico? – perguntaram-lhe ansiosamente.
– Fechem os olhos outra vez – disse ele. E quando lhes falou dos miosótis azuis, das papoilas vermelhas nos campos de trigo amarelo e do verde das folhas dos arbustos, viram as cores tão claramente como se estas tivessem sido pintadas no seu pensamento.

– E as palavras, Frederico? Frederico aclarou a voz, esperou um momento, e então, como se estivesse num palco, começou:
Quem sopra os flocos de neve? Quem derrete o gelo frio? Quem põe o tempo sombrio? Quem o faz outra vez alegre? Quem dá quatro folhas ao trevo e muitas mais à árvore nua? Quem apaga a luz do dia? Quem acende no céu a lua? Quatro ratinhos do campo dó-ré-mi-fá-sol-lá-si. Quatro ratinhos do campo… falam de mim e de ti. O ratinho da Primavera acorda todas as flores. E depois, o do verão pinta-as de todas as cores. O rato-Outono traz nozes e folhas amareladas. O do inverno é o último e vem com as patinhas geladas. As estações são quatro, cada uma tem o seu momento. Variam, temos muita sorte, fazem passar o tempo.

Quando Frederico acabou, todos aplaudiram. – Mas, Frederico – Tu és um poeta! Frederico corou, fez uma vénia e disse timidamente: – Eu sei.
FREDERICO, LEO LIONNI , KALANDRAKA, 2004

6 de setembro de 2010

CLXXX - Sun-Gazing

Hira Ratan Manek viaja pelo mundo sem cobrar pelos seus cursos e conferências. Apenas se lhe paga o bilhete de avião, garante-se-lhe o alojamento e ele vem comunicar a sua sabedoria, em qualquer lugar onde seja convocado. Nem sequer tem que se preocupar com as suas dietas, já que ele não come.
Passou de ser um empresário preocupado a ser um mestre sem discípulos, um sereno e tenaz transmissor de uma técnica singela baseada no olhar ao Sol, cujos protocolos estabeleceu ele mesmo. Trata-se do Sun Gazing.

A dita ferramenta, afirma, leva-nos ao desenvolvimento espiritual, passando antes pela limpeza emocional, mental e física. Ratan Manek chega, dá a sua mensagem e parte. Não demora nem meio segundo em trivialidades ou em nenhum tipo de interesse turístico.

As suas palavras chegam-nos juntamente com o seu porte impassível, o seu ser integrado, e nos transmite uma perfeita segurança.

Reportagem de Francesc Prims.
Reportagem original da Revista Athanor publicada no nº 70

Contacto com Hira Ratan Manek sobre o Sun Gazing : hrmanek@solarhealing.com (escrever em inglês).
– Qual é a origem da técnica de olhar ao Sol que nos propõe, o Sun Gazing?

– É uma técnica milenar, que se aplicava na Antiguidade em todo o mundo, incluindo a Europa. Hoje restam poucos povos ou grupos que a aplicam. Na Bulgária e na Grécia é uma prática que prevaleceu até há pouco tempo; na Bulgária inclusive hoje é aplicada por alguns médicos. No entanto, as religiões estabelecidas erradicaram o culto ao Sol.

– A que se atribui?

– Definitivamente nos textos religiosos modificados eliminaram as referências ao Sun Gazing, para que as pessoas estivessem sob a influência dos sacerdotes e não pudessem ser realmente independentes. Modificaram todos os textos; não resta quase nenhum. Se as pessoas estiverem desligadas do Sol podem ser exploradas pelos demais.
“O caso é, que o Sol tem poder e o homem pode alinhar-se com ele e conseguir a sua liberdade. Levei a cabo uma investigação durante vários anos. Comecei em 1962; contava então com 25 anos de idade. A Mãe, a companheira de Sri Aurobindo, ensinou-me a prática de olhar ao Sol. Pesquisei várias culturas e descobri que o autêntico Surya Namaskar (a Saudação ao Sol) de que se fala no yoga consiste na realidade em olhar ao Sol. Investiguei práticas egípcias relacionadas com o deus Ra; estudei tradições do México e do Perú, e conheci o Dia da Saudação ao Sol boliviano; também entrei em contacto com crenças que ainda hoje vigoram na Bulgária e na Grécia. Igualmente, estive em contacto com os nativos americanos. Depois de muitos anos pesquisando comecei a praticar com o meu próprio ritual. Custaram-me três anos de ensaio e de erro para o instaurar. Quando comecei padecia de depressões, por causa dos meus negócios. Tinha problemas para dormir e problemas com a alimentação. À medida que praticava, o sentimento de fome ia desaparecendo. A regra de olhar o Sol durante nove meses com uma progressão de dez segundos, foi estabelecida por mim, e é uma maneira segura, que qualquer pessoa pode aplicar, de se chegar ao máximo benefício na sua relação com o Sol.

– Por quê? Poderíamos ir mais depressa?

– Ao todo serão 270 dias olhando o Sol, e o total de horas de visão acumuladas serão 111. Este é o requisito para chegar a conseguir todos os benefícios psicológicos, físicos e espirituais. Não recomendo enfrentar o processo com pressas, nem forçá-lo. O Sol não é fast food (comida rápida), mas sim slow food (comida lenta). Dá resultados perfeitos se é feito com calma e regularidade. Se há um dia em que você não pode olhar tanto, não trate de compensar olhando por mais tempo no dia seguinte.

– Hoje em dia, o Sun Gazing está estruturado como um movimento?

– Este método está a expandir-se por todo o mundo. Não há chefes, e todo o mundo pode praticá-lo de forma independente. No entanto, há grupos que se juntam para praticar e para difundir a mensagem; auto- organizam-se.

– Por quê nos incita a fazer a prática do Sun Gazing? Que benefícios vamos obter?

– Na nossa cultura ensinaram-nos a temer o Sol e a esconder-nos dele, quando na realidade toda a nossa vida depende do Sol, começando porque nutre os vegetais que estão no princípio da cadeia alimentar. Ele é o nosso grande benfeitor; equilibra a natureza e a ecologia. Está sempre aí. Oferece-nos, grátis e para sempre, vida e saúde. Grátis! Ninguém o fará pagar impostos por estar olhando o Sol. Afinal, você mesmo, como os vegetais poderá incorporar diretamente a energia do Sol. Sem necessidade de tornar-se dependente de nenhum guru ou mestre, o Sol directamente o nutrirá e lhe dará o quanto necessita. Terá saúde física e perfeita estabilidade mental, por si mesmo. Quem depende de chefes religiosos torna-se fraco. Com o Sun Gazing recuperamos a independência perdida. (…)