CLXXXI - Frederico
Cercando o prado, onde as vacas pastavam e os cavalos corriam, havia um velho muro de pedra. Nesse muro, não muito longe do estábulo e do celeiro, uma tagarela família de ratos do campo tinha feito a sua casa. Os agricultores haviam partido, deixando o estábulo abandonado e o celeiro vazio. E, como o inverno estava a chegar, os ratinhos começaram a recolher milho, nozes, trigo e palha. Todos trabalhavam dia e noite. Todos menos um, Frederico.
– E tu, porque não trabalhas, Frederico? – Perguntavam os outros.
– Eu estou a trabalhar – dizia Frederico – Apanho raios de sol para os dias frios e escuros de inverno.
E quando viam Frederico ali sentado, olhando o prado, os outros ratos, diziam-lhe:
– E agora, Frederico?
Ele respondia, simplesmente: – Recolho cores para os dias cinzentos do inverno.
Noutra ocasião, Frederico parecia meio-adormecido.
– Estás a sonhar, Frederico? – perguntaram-lhe em tom reprovador.
Mas Frederico respondeu-lhes: – Ah, não! Estou a juntar palavras. É que os dias no inverno são muito longos, e podemos ficar sem nada para dizer.
Chegaram os dias de inverno e, quando caiu a primeira neve, os cinco ratinhos do campo abrigaram-se no seu esconderijo entre as pedras. No início havia muito que comer e os ratos contavam histórias de raposas tolas e gatos patetas. Eram uma família feliz.
Só que, aos poucos, foram comendo todas as nozes, acabaram com a palha e o milho não era mais do que uma longínqua memória. No muro de pedra fazia muito frio e ninguém tinha vontade de conversar. Então lembraram-se daquilo que Frederico tinha dito sobre os raios de sol, as cores e as palavras.
– E as coisas que tu armazenaste, Frederico? – perguntaram eles.
– Fechem os olhos – disse Frederico, enquanto subia uma pedra muito alta.
– Agora vou mandar-vos os raios de sol. Deixem-se envolver pelo seu brilho dourado… E, enquanto Frederico lhes falava do sol, os quatro ratinhos começaram a sentir-se mais aquecidos. Seria da voz de Frederico? Seria mágica?
E as cores, Frederico? – perguntaram-lhe ansiosamente.
– Fechem os olhos outra vez – disse ele. E quando lhes falou dos miosótis azuis, das papoilas vermelhas nos campos de trigo amarelo e do verde das folhas dos arbustos, viram as cores tão claramente como se estas tivessem sido pintadas no seu pensamento.
– E as palavras, Frederico? Frederico aclarou a voz, esperou um momento, e então, como se estivesse num palco, começou:
Quem sopra os flocos de neve? Quem derrete o gelo frio? Quem põe o tempo sombrio? Quem o faz outra vez alegre? Quem dá quatro folhas ao trevo e muitas mais à árvore nua? Quem apaga a luz do dia? Quem acende no céu a lua? Quatro ratinhos do campo dó-ré-mi-fá-sol-lá-si. Quatro ratinhos do campo… falam de mim e de ti. O ratinho da Primavera acorda todas as flores. E depois, o do verão pinta-as de todas as cores. O rato-Outono traz nozes e folhas amareladas. O do inverno é o último e vem com as patinhas geladas. As estações são quatro, cada uma tem o seu momento. Variam, temos muita sorte, fazem passar o tempo.
Quando Frederico acabou, todos aplaudiram. – Mas, Frederico – Tu és um poeta! Frederico corou, fez uma vénia e disse timidamente: – Eu sei.
FREDERICO, LEO LIONNI , KALANDRAKA, 2004
– E tu, porque não trabalhas, Frederico? – Perguntavam os outros.
– Eu estou a trabalhar – dizia Frederico – Apanho raios de sol para os dias frios e escuros de inverno.
E quando viam Frederico ali sentado, olhando o prado, os outros ratos, diziam-lhe:
– E agora, Frederico?
Ele respondia, simplesmente: – Recolho cores para os dias cinzentos do inverno.
Noutra ocasião, Frederico parecia meio-adormecido.
– Estás a sonhar, Frederico? – perguntaram-lhe em tom reprovador.
Mas Frederico respondeu-lhes: – Ah, não! Estou a juntar palavras. É que os dias no inverno são muito longos, e podemos ficar sem nada para dizer.
Chegaram os dias de inverno e, quando caiu a primeira neve, os cinco ratinhos do campo abrigaram-se no seu esconderijo entre as pedras. No início havia muito que comer e os ratos contavam histórias de raposas tolas e gatos patetas. Eram uma família feliz.
Só que, aos poucos, foram comendo todas as nozes, acabaram com a palha e o milho não era mais do que uma longínqua memória. No muro de pedra fazia muito frio e ninguém tinha vontade de conversar. Então lembraram-se daquilo que Frederico tinha dito sobre os raios de sol, as cores e as palavras.
– E as coisas que tu armazenaste, Frederico? – perguntaram eles.
– Fechem os olhos – disse Frederico, enquanto subia uma pedra muito alta.
– Agora vou mandar-vos os raios de sol. Deixem-se envolver pelo seu brilho dourado… E, enquanto Frederico lhes falava do sol, os quatro ratinhos começaram a sentir-se mais aquecidos. Seria da voz de Frederico? Seria mágica?
E as cores, Frederico? – perguntaram-lhe ansiosamente.
– Fechem os olhos outra vez – disse ele. E quando lhes falou dos miosótis azuis, das papoilas vermelhas nos campos de trigo amarelo e do verde das folhas dos arbustos, viram as cores tão claramente como se estas tivessem sido pintadas no seu pensamento.
– E as palavras, Frederico? Frederico aclarou a voz, esperou um momento, e então, como se estivesse num palco, começou:
Quem sopra os flocos de neve? Quem derrete o gelo frio? Quem põe o tempo sombrio? Quem o faz outra vez alegre? Quem dá quatro folhas ao trevo e muitas mais à árvore nua? Quem apaga a luz do dia? Quem acende no céu a lua? Quatro ratinhos do campo dó-ré-mi-fá-sol-lá-si. Quatro ratinhos do campo… falam de mim e de ti. O ratinho da Primavera acorda todas as flores. E depois, o do verão pinta-as de todas as cores. O rato-Outono traz nozes e folhas amareladas. O do inverno é o último e vem com as patinhas geladas. As estações são quatro, cada uma tem o seu momento. Variam, temos muita sorte, fazem passar o tempo.
Quando Frederico acabou, todos aplaudiram. – Mas, Frederico – Tu és um poeta! Frederico corou, fez uma vénia e disse timidamente: – Eu sei.