11 de fevereiro de 2008

CXXIX - castelos de areia

by Isabel Faria
Junto a uma serra há uma praia pequenina, de areia macia, onde as crianças gostam de brincar. É ali que se encontram muitas vezes a Rita, o Miguel e o André, três primos, cuja melhor brincadeira é construir castelos, ali à beira do mar. Mas são sempre uns senhores castelos! Altos, com torres e torreões, com portas e portões! E é ver quem faz o castelo mais alto, mais complicado, mais… tudo!
Um dia, os primos resolveram construir um castelo com pessoas, cavalos, portas, janelas, árvores e tudo o mais que lhes viesse à cabeça. E o castelo ali se ergueu, maior do que todos os outros.
— Castelo sem princesa, nunca se viu! — disse a Rita. E logo os primos puseram uma princesa à janela.
— Castelo sem bandeiras, nunca se viu! — disse o Miguel. E logo apareceram bandeiras de papel na torre mais alta, a ondular ao vento.
— Castelo sem fosso, nunca se viu! — queixava-se agora o André. E lá fizeram um fosso cheio de água.
— Um castelo deve ter bruxas! — continuou a Rita. E ela mesma fez uma bruxa a saltar da torre, montada numa vassoura.
— Um castelo deve ter fadas! — pediu o André. E a fada entrou pela ponte levadiça.
— Um castelo deve ter um gigante! — E o Miguel ria-se enquanto fazia um gigante ao lado da fada.
— À noite, as tempestades metem medo! — E a Rita salpicava o castelo com água do mar, como se fosse uma grande chuvada.
— E o vento sopra forte… — E todos sopravam e riam, riam e sopravam.
— E um dragão, um castelo precisa de um dragão! — gritou o Miguel — Vamos fazer um dragão.
— Não vamos fazer dragão nenhum; o Fofinho serve. — E a Rita puxou o cão para junto do castelo.
— E agora chega o príncipe e mata o dragão. — anunciou o André.
— Mata nada! O cão é meu! — gritou o Miguel, agarrado ao Fofinho, que não parecia interessado em fazer o papel de dragão.
Entretanto, o mar tinha subido devagarinho e já destruíra uma porta do castelo.
— Meninos, são horas do almoço! — chamava a tia Isabel. — Já estão há muito tempo aí ao sol.
— É isso! É isso! — disse o Miguel, muito sisudo. — É o tempo, é o tempo! Não há castelo que escape aos ataques do tempo! Ele passa e as muralhas irão cair, as paredes abrirão fendas; do castelo em ruínas fugirão fadas e dragões, bruxas e gigantes! Amanhã será a altura de reconstruirmos o nosso castelo.
— Amanhã faremos novas torres — garantia o André.
— Amanhã teremos novas fadas — afirmava o Miguel.
— Pois é, e hoje teremos novo almoço! Vamos comer.
E a Rita correu para casa com os primos e o cão-dragão atrás dela.
O castelo ali ficou na luta com o mar. Aos poucos, as torres caíram, o fosso desfez-se, a fada já não era mais do que um montinho de areia, arredondado pelas ondas. O mar ia deixar a praia de novo lisa e macia, pronta para que as crianças viessem construir os seus castelos de areia com dragões, gigantes e feiticeiros.
Amanhã, recomeçará a brincadeira do mar e das Ritas, dos Migueis e dos Andrés que sonham e constroem castelos de areia.

Natércia Rocha
Castelos de Areia

Bertrand Editora, 1995

6 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quem nunca construi castelos de areia que atire a primeira pedra ! A
fantasia é a materia prima por excelência dos nossos sonhos.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008 7:25:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

"Num dia de verão, estava na praia, observando duas crianças brincando na areia.

Elas trabalhavam muito, construindo um castelo de areia, com torres, passarelas e passagens internas.

Quando estavam quase acabando, veio uma onda e destruiu tudo, reduzindo o castelo à um monte de areia e espuma.

Achei que as crianças cairiam no choro, depois de tanto esforço e cuidado, mas tive uma surpresa.

Em vez de chorar, correram para a praia, fugindo da água, Sorrindo, de mãos dadas e começaram a construir outro castelo...

Compreendi que havia recebido uma importante lição:

Gastamos muito tempo de nossas vidas construindo alguma coisa.

E mais cedo ou mais tarde, uma onda poderá vir e destruir o que levamos tanto tempo para construir.

Mas quando isso acontecer, somente aquele que tem as mãos de alguém para segurar, será capaz de dar uma reviravolta !!!.

Tudo é feito de areia;

Só o que permanece é o nosso relacionamento com as outras pessoas."

Autor Desconhecido

quinta-feira, fevereiro 14, 2008 7:49:00 da tarde  
Blogger Ruben David Azevedo said...

Não o fazemos nós todos os dias?

quinta-feira, fevereiro 14, 2008 11:05:00 da tarde  
Blogger Zé Miguel Gomes said...

Eu ainda os faço... Todos os dias...

Fica bem,
Miguel

sexta-feira, fevereiro 15, 2008 10:41:00 da manhã  
Blogger ...QUE VOA... said...

Todos os dias os construimos...ok.

No entanto, de adultos que achamos que somos, perdemos a garra da reconstrução.

Pureza, genuinidade, fé e o imaginário são coisas de criança, dizemos nós.

Castelos de areia...aos 33 constuir castelo de areia?! Era o que faltava!
E é... realmente o que falta.

Há que ver realmente que se constroem castelos de areia todos os dias independentemente da forma de estar do mar!

domingo, fevereiro 17, 2008 4:52:00 da tarde  
Blogger pasta7 said...

Que bom! Anda-se por aí a contruir castelos de areia! Por aqui tb, embora como a ...que voa... refere, nem sempre se consiga ver com bons olhos, as ondas a cercarem os castelos, sempre tão bonitinhos... O ponto de ordem é no sentido de se tentar atingir um acordo íntimo entre o coração e a mão; projectar em RECONSTRUÇÃO constante o desapego, a confiança, a liberdade, em suma, o OPTIMISMO.

Projectar e executar, é o que "vos-nos-me-te" desejo. Grato pela vossa sempre valiosa companhia.

quarta-feira, fevereiro 20, 2008 7:10:00 da tarde  

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