CXXXII - Hipnopompia

Existe uma epidemia de perda de sonho nas grandes cidades.

Se houver apenas pesadelos nos sonhos dos humanos, o mundo dos sonhos tornar-se-á exclusivamente o mundo do pesadelo! O mundo real e o mundo da imaginação são interdependentes. Funcionam como vasos comunicantes.

Sem o trabalho do sonho, o nosso mundo vai empobrecer cada vez mais. Temos de albergar aspirações grandiosas. O homem precisa de se reinventar, de reabilitar o desejo das construções imaginárias, de fazer renascer a sede de utopia a fim de alimentar o inconsciente colectivo.

O progresso não manteve as suas promessas. Constituía uma fonte de esperança, tornou-se uma fonte de inquietude. Deixámo-nos despojar da capacidade imaginativa, as nossas viagens interiores estão em vias de extinção. Os nossos desejos, o nosso desejo está a desaparecer! O progresso do século XX atingiu um ritmo de tal modo acelerado que o homem contemporâneo, totalmente ultrapassado pela complexidade do seu mundo, se resignou a ser um mero observador passivo de uma ordem a priori incompreensível. Dobrado sobre o seu universo pessoal, recusou o esforço do trabalho do sonho, privando-se pura e simplesmente da sua capacidade de acção, do seu poder transformador.

O sonho permite ao homem ir buscar ao fundo de si mesmo, os seus recursos inconscientes, recursos dos quais ele é único detentor. Desse modo, pode aumentar o seu potencial enquanto indivíduo e a sua criatividade, a sua maneira muito própria de pensar, de construir.

algumas notas de O Mundo de Cosmo, Hélène Guétary.