21 de março de 2009

CLXI - União Mística

«Se não houvesse a tenebrosa obscuridade do mundo físico, apareceria seguramente em toda a claridade a luz do mistério divino. Se não houvesse a tentação sedutora da concupiscência sensível, decerto que se ergueria o véu. Se não houvesse as afeições terrestres, é certo que as realida­des espirituais se revelariam. Se não houvesse as causas criadas, brilharia em toda a luz a divina omnipotência. Se não houvesse o esforço, é seguro que a gnose seria pura e clara. Se não houvesse a avidez do desejo, é indubitável que o amor divino se enraizaria fortemente na alma. Se não restassem ainda algumas afeições terrestres, certamen­te que o amor apaixonado de Deus consumaria os espíri­tos. Se não houvesse erro da parte do servidor, é certo que o Senhor seria contemplado.
Por isso, quando os véus caem, pela interrupção destas causas ocasionais, e os obs­táculos são suprimidos, pela amputação destas afeições terrestres, acontece o que já disse o poeta:

»Um segredo te foi revelado que durante muito tempo te havia sido escondido; uma aurora brilhou da qual tu eras a obscuridade.
»Tu és de facto o véu que esconde ao teu próprio coração o segredo do seu mistério, pois sem ti o teu selo não se gravaria no teu coração para o esconder.
»Se te ausentas do teu coração, ele instala-se aí e as suas temas elevam-se sobre o cimo da santa revelação.
»E produz-se um divino colóquio cuja audição nunca enfastia e cuja prosa e versos se nos tomam ardentemente desejáveis.»

Ibn al-Aîf
Mahâsin al-majalis
(místico Sufi)

1 Comments:

Blogger Zé Miguel Gomes said...

Sabemos tão pouco do que sabemos sobre nós próprios.

Fica bem,
Miguel

sexta-feira, março 20, 2009 11:17:00 da manhã  

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