10 de outubro de 2006

XLI - A Estrela de Joana

“Quem me dera ter uma amiga,” suspirou Joana, enquanto olhava pela janela do seu quarto. “Alguém especial com quem partilhar os meus segredos.” Mas não havia ninguém a ouvir – apenas as estrelas distantes que piscavam e brilhavam como pequenas pérolas no céu da noite.

De repente, algo captou a atenção de Joana. Joana mal podia acreditar: um rasto de prata, rodopiando no céu, vinha em sua direcção. Passou tão perto da janela, que Joana quase conseguia tocar-lhe. Algo de mágico e maravilhoso estava a acontecer! Joana vestiu apressadamente o roupão, calçou os chinelos e desceu até à rua.
Lá fora, caída no passeio, encontrava-se uma pequena estrela que lançava faíscas coloridas. “És linda”, sussurrou Joana ao aproximar-se da estrela. Uma das pontas da estrela tinha-se partido quando esta caiu no chão. “Não te preocupes,” disse Joana, enquanto a levava carinhosamente para casa. “Vou tratar de ti e ficarás boa depressa.” Já no seu quarto, Joana conseguiu consertar a estrela.

Mais tarde, Joana contou à sua amiga todos os seus segredos e esta parecia brilhar cada vez mais. Era como se a conseguisse ouvir e compreendesse. Joana adormeceu muito feliz, porque sabia que tinha finalmente encontrado uma amiga especial.

Mas quando acordou no dia seguinte, reparou que a sua almofada estava vazia. A estrela tinha desaparecido! Ficou assustada. Procurou debaixo do cobertor e revirou todas as gavetas e armários. Subiu até ao topo do guarda-vestidos e até espreitou por debaixo da cama. Mas não encontrou nada. Não conseguia encontrar a estrela em lado algum. Joana sentiu-se muito só e como se de repente já nada tivesse importância. Será que a pequena estrela tinha sido apenas um sonho?

Quando Joana voltou da escola, os seus pais tentaram fazer o possível para a alegrar. “Queres um pouco da tua Gelatina preferida?” perguntou o Pai. “Não gostas do meu chapéu maluco? O que tens?” perguntou a Mãe. Joana não podia responder. Não podia explicar-lhes porque estava tão triste. A sua estrela tinha desaparecido para sempre, e nem sequer lhe tinha dito adeus.

À noite, Joana foi deitar-se muito desconsolada. Mas, ao aproximar-se do quarto, reparou numa luz que aparecia por baixo da porta. Ao abri-la, ficou espantada com o grande clarão de luz que viu. Era ela! A sua estrela estava exactamente onde a tinha colocado na noite anterior e brilhava como mil diamantes. De inicio Joana mal podia acreditar, mas depois, muito contente, correu para junto da sua querida amiga estrela. “Já sei o que aconteceu,” disse Joana. “As estrelas só aparecem de noite. Estiveste sempre aí, só que eu não te conseguia ver. Eu sabia que não irias deixar-me sem me dizeres adeus.” Brincaram, fizeram partidas e Joana leu à estrela o seu livro favorito. Mas Joana aos poucos apercebeu-se de que a estrela estava a ficar fria e menos brilhante, como se estivesse a desaparecer.

Joana tentou aquecê-la com as suas pequenas mãos quentes, mas a estrela continuava cada vez mais fria. Depressa percebeu porque é que a sua amiga estrela estava a apagar-se. Joana escolheu os seus quatro melhores balões e atou-os cuidadosamente à pequena estrela.
Fica bem,” disse Joana.
Enquanto abria a janela e largava os fios. “E sê muito feliz.” Lentamente, os balões subiram no céu escuro e a pequena estrela piscou carinhosamente para Joana enquanto se afastava cada vez mais, até alcançar as outras estrelas, que estavam lá em cima no céu estrelado.

Joana já não estava triste, porque sabia que a sua pequena estrela tinha voltado para a sua verdadeira casa, onde realmente pertencia. Todas as noites, antes de se deitar, ia até à janela e contava os seus segredos ao céu, pois sabia que, onde quer que a pequena estrela estivesse, ela estava sempre a ouvir.



P.S.: Muito obrigado Joana Lopes por trazeres para o meu mundo tamanha “metáfora”. Com ela aprendi que a amizade às vezes significa deixar partir quem nos é mais precioso. Aprendi que cada um de nós tem o seu caminho, e que não é só amigo quem caminha no nosso caminho.
Nunca chorar uma partida, mas sorrir porque o encontro aconteceu.



Klaus Baumgart

publicado em português pela MINUTOS DE LEITURA (Excelentes trabalhos, Francisco!), sob o nome A ESTRELA DE LAURA.

Mudei o nome de Laura para Joana de forma a agradecer à SEMPRE amiga Joana Lopes, que me agarra pela mão e me transporta para o lindo e mágico Universo Primeiro, as tantas e tantas bonitas, reconfortantes viagens... para mim é como um atracar em porto seguro, um regresso às cores e à possibilidade de " ... e viveram felizes para sempre."