12 de junho de 2010

CLXXVII - Integração do Negativo

Ouvi um velho confrade razoável e bom, perfeito e santo dizer:
“Se sentires o chamado do Espírito, atende-o e procura ser santo com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, porém, por humana fraqueza não conseguires ser santo, procura então ser perfeito com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, contudo, não conseguires ser perfeito por causa da vaidade de tua vida, procura então ser bom com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, ainda, não conseguires ser bom por causa das insídias do Maligno, então procura ser razoável com toda a tua alma, com todo o teu coração e com todas as tuas forças.
Se, por fim, não conseguires nem ser santo, nem perfeito, nem bom, nem razoável, por causa do peso dos teus pecados, então procura carregar este peso diante de Deus e entrega tua vida à divina misericórdia.
Se isso fizeres, sem amargura, com toda a humildade e com jovialidade de espírito por causa da ternura de Deus que ama os ingratos e maus, então começarás a sentir o que é ser razoável, aprenderás o que é ser bom, lentamente aspirarás a ser perfeito e, por fim, suspirarás por ser santo.”

A estratégia da integração tenta assumir toda a complexidade do Eros e do Pathos. A função da razão é enuclear a partir de um centro vivo, de uma intuição básica, todas as demais forças da passionalidade humana. Não se quer recalcar nada, mas fazer girar como satélites ao redor de um centro todos os impulsos da vida. O esforço incide no equilíbrio. Não se temem as paixões, elas são encaradas com naturalidade; trabalha-se sobre os dois pólos, sem recalcar nada. O negativo assumido perde a sua virulência e se comporta como uma fera domesticada. A energia liberada reforça o pólo positivo, objecto da intencionalidade do santo. O resultado é o perfil de um santo, homem integrado, senhor de suas energias porque segura a todas elas pelas rédeas; é capaz de ternura e de gestos profundamente humanitários porque não foi enrijecido pela racionalidade e pelo controle. Como reconhece Rollo May: “ Ser capaz de sentir e viver a capacidade para um amor terno exige uma confrontação com o demoníaco. Os dois parecem opostos, mas, se um for negado, o outro também está perdido” Para chegar a esta integração que não é fruto de uma síntese teórica, precisa-se conhecer e experimentar ao anjos e os demónios que habitam a vida. A integração resulta de idas e vindas, ascensões e quedas, renuncias e retomadas, até cristalizar-se um centro forte que tudo atrai e harmoniza.

Leonardo Boff – São Francisco de Assis

1 Comments:

Blogger Miguel Gomes said...

conhecer e ser o que conhecemos e somos

quinta-feira, julho 01, 2010 12:43:00 da tarde  

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